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Impasse paralisa banco de olhos e piora fila
Conselho Regional de Enfermagem diz que técnicos não podem atuar na captação de córneas, alegando risco para o paciente
Banco de Olhos de Sorocaba afirma que a decisão é corporativa, que o serviço funciona bem, e que não há como arcar com a resolução
CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL
Um impasse sobre qual profissional -enfermeiro ou técnico- pode captar córneas para
transplante mantém há pouco
mais de um mês o maior banco
de córneas do país paralisado.
Com isso, a fila de espera passou de 1.400 pessoas para 2.056
em São Paulo.
O Banco de Olhos de Sorocaba é responsável por 75% das
córneas transplantadas no Estado. Desde 24 de fevereiro,
suas atividades estão suspensas
porque o Conselho Regional de
Enfermagem passou a exigir a
presença de enfermeiros (ou
médicos) em todo o processo
de captação de córneas.
Para o banco de olhos, entidade sem fins lucrativos que
presta serviço à Secretaria de
Estado da Saúde, a decisão é
uma reserva de mercado e impede que profissionais de nível
técnico, treinados, atuem.
O banco diz que teria de contratar 60 enfermeiros, com
custo três vezes maior. "Ninguém tem estrutura para isso",
diz o administrador do banco
de olhos, Edil Vidal de Souza.
"Enquanto isso, pacientes estão esperando, tem gente que
quer doar e não pode. Algo que
funcionava bem está parado."
Os transplantes de córneas
no Estado em março caíram
mais da metade em relação a fevereiro: de 434 para 204. A doação de órgãos, como um todo,
também foi afetada: 17, ante 27.
Para a secretaria, "esses dados permitem supor que a decisão do conselho tenha interferido também no trabalho das
Organizações de Procura de
Órgãos, causando dúvidas sobre os procedimentos adotados
nos trabalhos de captação".
A Folha não conseguiu falar
ontem com o conselho. Em
carta aos hospitais, o conselho
diz que técnicos e auxiliares de
enfermagem (sem curso superior) podem atuar, desde que
estejam no auxílio do médico e
do enfermeiro. Para o órgão,
todo o processo deve ter a presença de enfermeiros e médicos para evitar riscos à saúde.
"O que não pode, em hipótese alguma, é assumirem estas
ações isoladamente (...). Esta
distorção agride e desrespeita a
profissão e, acima de tudo, a sociedade."
Na sexta, segundo nota do
Sistema Nacional de Transplantes, ficou decidido "que
profissionais de enfermagem
de nível médio deverão estar
sob supervisão de um enfermeiro". Também foram prometidas "reuniões com as instituições envolvidas para promover um amplo debate".
O banco de olhos afirma que
não tem como arcar com o custo da decisão do conselho.
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