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PASQUALE CIPRO NETO
"Caso este e-mail foi enviado por engano..."
E se o nosso letrado e atento policial desse com um dos caminhões dessa empresa? Pobres funcionários!
O LIXO E A PICARETAGEM "internéticos" não têm limite. O
pior é que muita gente acredita cegamente nisso. O exemplo
mais comum disso talvez seja o dos
"belos textos" (a frase "Veja que belo
texto de Fulano de Tal" costuma ser
o "assunto" dessas mensagens).
Certa vez, recebi um texto de
"Fernando Pessoa" em que se empregavam simultaneamente as formas pronominais "te", "contigo" e
"você". Quem conhece um tostão da
língua e outro tostão da obra de Pessoa sabe que o genial poeta era português e, justamente por ser português, não escrevia dessa maneira.
Antes que algum deslumbrado
raivoso veja no que acabei de dizer
alguma condenação do uso simultâneo de "te" e "você", traduzo (desnecessariamente, para os lúcidos e pacíficos) o que acabei de dizer: o emprego simultâneo de "te" e "você"
(muito comum no português do
Brasil -seja na fala, seja nos escritos
literários) não ocorre em Portugal.
Repito: isso é apenas uma constatação, e não um juízo de valores. É justamente o conhecimento dessas
nuanças o que permite ao leitor descartar de bate-pronto textos desses
"autores", verdadeiras tapeações.
Mas há coisas piores na internet.
Ao chegar à Redação para escrever
esta coluna (que trataria de outro assunto), abri meu e-mail particular e
vi que, numa das mensagens (cujo
remetente -sim, remetente- é "encontrado uma fraude em sua movimentação bancária"), uma "administradora" de cartões de crédito me
informava que... Bem, não importa.
O que importa é que, como se não
bastasse o trecho "encontrado uma
fraude" no "nome" do remetente, a
ameaçadora mensagem terminava
com estes dizeres: "Caso este e-mail
foi enviado por engano ignore esta
mensagem" (assim, sem vírgula).
Como se vê, os pilantras que redigiram a mensagem ou não conhecem o subjuntivo (modo verbal que
expressa dúvida, possibilidade, suposição etc.) ou -ato falho?- conhecem-no, mas, preanunciando e
confessando a safadeza, empregam
o indicativo (modo verbal que expressa confirmação, certeza, processo posto no plano da realidade etc.).
Para que fique claro: em vez "Caso
este e-mail tenha sido enviado
por...", os larápios escreveram "Caso
este e-mail foi enviado...". É bom dizer que, nas variedades formais da
língua, o que ocorre mesmo com a
conjunção "caso" é (justamente pelo
caráter condicional do conectivo) o
emprego do modo subjuntivo.
O diabo é que nem sempre o cochilo lingüístico dos gatunos serve
como precaução. Explico (em dois
capítulos). O primeiro: recentemente um policial desconfiou de um veículo que trafegava num bairro "nobre" de São Paulo. Na lateral da perua, lia-se "Impório Santa Maria".
Os larápios informavam também o
site, que, coerentemente, era
"www.imporiosantamaria.com.br".
O policial notou o trambique e prendeu os incautos meliantes.
Agora o segundo capítulo: há (ou
havia) uma empresa chamada
"Transportes Treiz Meninas Ltda".
Não estou brincando, não. Pode digitar no Google. A empresa existe
(ou existiu, sei lá). E se o nosso letrado policial desse com um caminhão
dessa empresa? Pobres funcionários! Como dizia meu querido amigo
José Antônio Pinto Arantes, "a língua funde a cuca do povo". É isso.
inculta@uol.com.br
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