São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Mortes por dengue no RJ chegam a 54 no ano

Áreas carentes, com baixo IDH, concentram maioria das mortes; famílias buscaram, sem sucesso, hospitais públicos

Vítima de 2 anos, que morava à beira de rio propício à procriação do mosquito transmissor, passou por três hospitais públicos

ITALO NOGUEIRA
MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

Bairros com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) abaixo da média da capital do Rio concentram 25 das 31 mortes causadas pela dengue neste ano. A maioria das famílias recorreu, sem sucesso, a hospitais públicos. A Secretaria de Estado de Saúde divulgou ontem que 54 pessoas morreram vítimas da epidemia no Estado.
Houve mortes ainda em Duque de Caxias (7), Campos (3), São João de Meriti (3), Paracambi (3), Nova Iguaçu (1), São Gonçalo (1) e Belford Roxo (1), regiões onde o IDH também é baixo, além de Miguel Pereira (3) e Angra dos Reis (1).
A cada cinco mortos na capital, quatro ocorreram em bairros cujo IDH está abaixo da média do Rio: 0,840. Com um dos piores índices, Senador Camará (0,768) é onde houve mais vítimas: quatro, sendo três crianças abaixo de 11 anos.
Em Curicica (0,828 de IDH), as mortes se concentram no Conjunto Juliano Moreira. Dois mortos já foram confirmados pela secretaria municipal. Um caso aguarda o laudo.
Os pais de Jhamile Olegário Ferreira, 2, viram de perto as manchas surgirem no corpo dela. Na casa de 15 metros quadrados à beira de um rio, em Curicica, cujas margens acumulam lixo e bambuzais -propício à procriação do mosquito da dengue-, o auxiliar de serviços gerais Jurandir Nunes Ferreira Jr., 32, logo desconfiou que a filha tinha dengue.
"Ela ficou cinco dias internada no hospital Lourenço Jorge (municipal) e deram alta. Recomendaram repouso e alimentação", disse Ferreira Jr.
Jhamile passou a evacuar sangue um dia depois da alta. Os pais a levavam para o hospital, onde os médicos receitavam medicação e a mandavam para casa. Eles decidiram procurar outro hospital municipal, o Raphael de Paula Souza, onde ela ficou 12 dias. No dia 23, foi levada às pressas para o hospital pediátrico Jesus.
A menina morreu no dia seguinte. A secretaria ainda aguarda um laudo final para concluir a causa. Os pais dizem que ouviram dos médicos que ela foi vítima da dengue.
O casal já perdeu uma filha de três anos, também em um hospital público. Júlia Vitória foi internada com pneumonia há um ano, mas morreu em razão de uma infecção hospitalar.
O filho Jackson, 6, "está traumatizado, não quer ir mais para hospital", disse a mãe.


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