São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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Funai acusa Estado de tirar proveito do fogo

ANDRÉ MUGGIATI
da Reportagem Local

O advogado da Funai em Roraima, Wilson Précoma, acusa o governo de Roraima de haver aguardado que o incêndio se tornasse uma catástrofe, sem tomar providências, para poder obter verbas junto ao governo federal.
O governador Neudo Campos nega, afirmando que alertou o governo federal sobre os riscos do incêndio em janeiro, quando decretou estado de calamidade pública no Estado, devido à seca. "Naquela ocasião já sabíamos que havia o risco", disse Campos.
O governador diz, entretanto que até o mês de fevereiro o fogo em Roraima era apenas o de "queimadas normais na agricultura". De acordo com ele, o incêndio incontrolável começou apenas em março.
"O governo ficou conscientemente imobilizado esperando que a situação se tornasse uma catástrofe. O governador ocultou a gravidade da situação até certo ponto e depois criou um fato político", diz Précoma.
Desde o início do mês, Campos tem pedido verbas para combater o incêndio, ao governo federal.
No dia 9 de março, ele pediu R$ 15 milhões, que afirmou julgar necessários para combater o fogo e suas consequências.
Para o advogado da Funai, a situação já era grave desde fevereiro, quando deveriam ter sido tomadas providências, tais como o pedido de ajuda federal.
A hipótese de demora proposital do governo é investigada também pelo Procurador da República em Roraima, Ageu Florêncio da Silva. "Tenho a suspeita de que as autoridades do Estado demoraram a tomar providências por motivos políticos", disse Silva.
O procurador pretende levantar, por meio de depoimentos, a maneira como todos os órgãos administrativos federais e estaduais agiram, com relação à questão.
Para Silva, os organismos foram "negligentes na rapidez de pedir ajuda para combater o incêndio".
Para a Funai em Roraima, além do governador, fazendeiros também seriam responsáveis pelo agravamento da situação.
"Eles estão usando o fogo para afastar os índios de suas terras. Depois de queimada a floresta, vão transformar tudo em pastagens", disse Précoma.



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