São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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VIOLÊNCIA
Ativistas de direitos humanos vistoriam duas cadeias de SP onde presos denunciam ter sido torturados
Após fuga, presos ficam 3 dias sem roupa

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Padre Francisco Reardon, da Pastoral Carcerária, durante vistoria à carceragem do 42º DP (Parque São Lucas)


OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

Após uma tentativa de fuga, os 128 presos do 42º DP, no Parque São Lucas (zona sudeste de São Paulo), teriam sido espancados, tiveram os colchões e os pertences retirados das celas e passaram três dias nus em celas sem água e com o banheiro entupido.
Situação semelhante ocorreu no 29º DP, na Vila Diva, também na zona sudeste, onde nove detentos fugiram na noite de sábado.
A denúncia foi feita ontem por uma comissão de ativistas de direitos humanos que visitou os dois distritos e constatou os problemas. A Folha acompanhou as visitas da comissão.
Nas paredes das duas delegacias há nas paredes marcas de balas, que teriam sido disparadas durante a revista dos presos.
Os delegados responsáveis pelas duas cadeias afirmaram que houve apenas revistas de rotina após as fugas. A Secretaria da Segurança Pública prometeu apurar as denúncias (leia ao lado).
Na opinião do padre Francisco Reardon, da Pastoral Carcerária, a pior situação foi verificada no 42º DP, onde os presos denunciaram o uso de uma máquina de choques pelos policiais. "As denúncias nas duas cadeias são muito graves e semelhantes, o que faz acreditar que são reais. Além disso, há vários presos com marcas das agressões", afirmou.
Segundo ele, presos das duas cadeias denunciaram a participação de policiais da 5ª Delegacia Seccional. Um dos policiais usaria um taco de beisebol com a inscrição direitos humanos. "Ele entrava nas celas e batia nos presos com o taco, falando que estava dando os direitos humanos que eles mereciam", afirmou João Laerte Pacheco, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.
Parque São Lucas
A tortura no 42º DP teria acontecido na madrugada de sábado, após a descoberta de um túnel. "Os presos dizem que foram colocados sem roupa no pátio e espancados. Os policiais tiraram os colchões e os pertences dos presos das celas e jogaram fora", afirmou o deputado Wagner Lino (PT), da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.
Desde então, os presos ficaram trancados nas celas sem água, nus e com as visitas proibidas. Na segunda-feira, foi autorizada a entrada de apenas uma calça ou bermuda por preso.
Vila Diva
No 29º DP, a suposta ação da polícia ocorreu no dia seguinte. Após a revista, policiais teriam atirado nas TVs dos presos e destruído os seus pertences. "Antes de ir embora, eles trancaram os presos nas celas e jogaram bombas de gás lacrimogêneo", afirmou E.L.F., que divide uma cela com 29 presos.



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