São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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BARBARA GANCIA

Pan com gastos de Olimpíada

O orçamento do Pan previa gastos na ordem de R$ 135 milhões. Já foram consumidos mais de R$ 4 bilhões

SEMPRE FUI contrária à realização do Pan do Rio, mas nunca deixei de torcer para que os jogos fossem um sucesso, que recordes fossem quebrados durante o evento e que atletas e turistas voltassem para casa maravilhados.
A 78 dias do início do evento, porém, está difícil manter a torcida. São tamanhos os atrasos e é tão imenso o rombo, que a única coisa a fazer agora é exigir explicações.
Na quarta, Pelé afirmou que o que está ocorrendo no Rio irá afetar a candidatura do Brasil para a Copa. "É um cartão de visitas ruim", disse ele. O nobre leitor pode ser daqueles que comungam com Romário, que acha que "Pelé, calado, é um poeta", mas, desta vez, só com muita criatividade irá discordar do rei.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador dos Jogos, não possui essa dose de inventividade. Se possuísse, não teria cometido a barbaridade de declarar que é impossível fazer o orçamento de um evento dessa magnitude. Como assim? Só não pode oferecer um orçamento quem não fez a lição de casa, quem apostou em dinheiro da iniciativa privada que não entrou ou quem contava com respaldo federal.
Há quem diga que o Pan-Americano são os Jogos do Interior falados em espanhol e que, em vez do Rio, ele deveria ter como sede alguma cidade do porte de Cuiabá. Quem diz isso alega que não é à toa que o Pan sempre tenha ocorrido em cidades menores, como Winnipeg, no Canadá, e não em grandes centros como Nova York ou Los Angeles. Como podem, então, os jogos do Rio (recuso-me a usar o termo "Pan do Brasil". O rombo é do Brasil, mas a responsabilidade é do Rio) consumir quantias dignas de Olimpíadas? É bom lembrar que o orçamento original do Pan previa gastos na ordem de R$ 135 milhões, e que já foram consumidos mais de R$ 4 bilhões.
Na semana passada, Juca Kfouri publicou em seu blog a carta aberta de Homero Blota, professor de Educação Física de escolas públicas do Rio. Embora o texto não seja um primor literário, seu conteúdo causa frio na espinha. O senhor Blota começa dizendo que o dinheiro usado em duas candidaturas olímpicas "malogradas" no Rio, e outra "fantasmagórica" em Brasília, poderia ter sido empregado em infra-estrutura para os menos favorecidos.
Depois, ele acusa o dossiê apresentado para o Pan do Rio de "megalomaníaco", dizendo que obras que nele constavam como hospitais, linhas de metrô, de despoluição da baía da Guanabara e de alargamento de avenidas nunca saíram do papel.
Em seguida, o professor faz uma denúncia que o tempo irá provar certa ou errada. Diz ele textualmente ao senhor Nuzman: "Vocês estão usando o Pan para tirar do papel coisas que há muito tempo se pretendiam no Rio de Janeiro e não se faziam por serem ilegais. Cito alguns exemplos: é um projeto antigo de grupos privados construir um shopping na Lagoa, onde será a raia de remo. Entregar o Rio Centro para a iniciativa privada também é um projeto antigo que interessa a grupos privados. Ora, eu pergunto: para que reformar a Marina da Glória, que é tombada pelo Iphan, se ela abriga um Pan-Americano como está?"
Cavalheiro que é, tenho certeza de que o senhor Nuzman tem respostas para todas as indagações do senhor Blota. Com a palavra, Carlos Arthur Nuzman.

barbara@uol.com.br


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