São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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JASMINA WAQUIM BUCAR DE ARRUDA (1917-200 8)

A matriarca, seus leques e jóias de ouro

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o vestido sem decote azul até os pés e jóias de ouro adornando pescoço, orelhas e braços, a "matriarca da família Bucar" tocava os negócios de casa. "Nem ao banheiro a senhora vai sem ouro pendurado", dizia o filho. Ela respondia lacônica. "Não se meta, pois uso essas jóias quando e onde quiser."
Assim era a Jasmina Bucar, filha de um dos primeiros árabes a pisar em São Luís, onde ela nasceu. Foi morar em Floriano (PI), seguindo a indústria de sapatos do pai. Chegou a fazer o curso para professora. Mas casou aos 17, com Arudá Bucar.
Foi dela a decisão de comprar o laboratório que faria dos Bucar "uma das grandes famílias do Piauí". Que ela administrara sozinha, negócio e família, até 2007. "Só quem falava alto era ela". E ai dos 12 filhos, 29 netos e 48 bisnetos se a vissem sem pedir bênção. "Ela criou tudo na palmatória, seis bolos na mão." Mas esquecia quem era quem e tinha que checar na "relação", um papel com os nomes da família, sempre que queria ralhar.
Sempre com uma das mais de 40 bolsas que guardava em seu quarto -na casa da filha solteira com quem morava-, "onde chegava, abria a bolsa e tirava um leque, dos 20 ou 30 que tinha."
No quarto tinha a rede do falecido, onde volta e meia dormia, e o altar coberto de imagens -era devota de Santa Terezinha, frente à qual passava tardes inteiras fazendo crochê, sem óculos. Quando morreu de infarto na quarta, aos 90, tinha cumprido a promessa. "Dizia que nunca vestiria calça comprida enquanto vivesse".

obituario@folhasp.com.br

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