São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Crítica de secretária é "leviana", diz professora

Para Sonia Penin, da USP, titular da Educação foi "simplista" ao dizer que cursos de pedagogia poderiam até ser fechados

Diretora da Faculdade de Educação admite problemas na formação de professores e defende pacto para melhorar a qualidade dos cursos

Alex Almeida/Folha Imagem
Sonia Penin, professora e diretora da Faculdade de Educação da USP, critica declarações da secretária de Educação de São Paulo

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, a secretária de Educação de São Paulo foi "leviana" ao afirmar que os cursos de pedagogia poderiam até ser fechados, de tantos problemas que possuem -incluindo os da USP e da Unicamp.
Em entrevistas à revista "Veja" e à Folha, a titular da pasta de educação do governo José Serra (PSDB), Maria Helena Guimarães de Castro, afirmou que os cursos de formação de professores abordam muito a teoria e se focam pouco na prática, o que seria uma das causas para a má qualidade de ensino em São Paulo e no país.
Penin -dirigente da Secretaria de Educação entre 1995 e 1999, no governo Mario Covas (PSDB)- afirma que as declarações atrapalham um pacto para melhoria na qualidade de ensino público.
A necessidade da mobilização ficou mais evidente, diz, após a divulgação dos resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que apontaram que 75% das escolas estaduais na capital paulista tiveram notas menores do que a pior particular da cidade.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Folha por Penin. A secretária da Educação não quis se manifestar sobre as críticas.  

FOLHA - Como a sra. analisa as declarações da secretária?
SONIA PENIN
- Foram um tanto simplistas, levianas. A formação de professores realmente é um problema, mas a solução seria fechar as faculdades? Deveríamos pensar em transformações, não em fechamento.
Um ponto importante a ser considerado é que, devido à falta de valorização dos professores das escolas públicas, poucos dos nossos alunos optam por essa rede. Ou seja, respondemos por uma pequena porcentagem dos professores das escolas públicas.
A minha posição é da necessidade de um pacto. Precisamos, por exemplo, articular melhor os estágios na rede pública. Por isso, a declaração da secretária foi um desserviço. Parece que a secretária quer se eximir de culpa pela qualidade do ensino. Mas a situação é tão ruim que ninguém é inocente.

FOLHA - Uma das principais críticas da secretária é que se discute muito a teoria nas faculdades de Educação e pouco do que será praticado dentro da sala de aula. Isso ocorre?
PENIN
- Nossos cursos têm uma parte muito grande de prática de estágios, até por questão legal [20% do currículo]. A teoria depende da prática e vice-versa.
Independentemente disso, há a necessidade de uma melhor articulação dos estágios nas escolas públicas. Já conversei com a secretária, mas ainda não foi feito.

FOLHA - Qual a culpa da universidade na má qualidade de ensino?
PENIN
- Primeiramente, cabe dizer que nossos professores [formados na USP] geralmente passam nos concursos públicos e galgam posições muito rapidamente, o que mostra uma boa qualidade na formação. Isso não significa que não haja problemas. Sempre precisamos melhorar.
A formação em qualquer profissão tem de ser continuada, em cima de problemas concretos. Isso se dá a partir da articulação entre as instituições formadores e as empregadoras, as secretarias de Educação. Um dos grandes desafios é a mudança no alunado. Atualmente, toda a gama da sociedade, felizmente, está na escola. Isso traz impactos, como violência, drogas.

FOLHA - A Secretaria de Educação implementou diversas medidas para melhorar a qualidade de ensino, como um bônus de produtividade para professores e funcionários. Como a sra. avalia essas medidas?
PENIN
- Primeiramente, incentivar é fundamental. Mas todas essas propostas devem ser discutidas com a própria rede. Mesmo as boas propostas, se não bem discutidas, ficam ruins. A gente viu a progressão continuada. Toda a teoria mostra ser importante, mas, se não há adesão de todos, fica difícil.

FOLHA - O governo federal lançou no ano passado o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), e iniciativas semelhantes ocorrem em vários Estados, inclusive São Paulo. Os projetos serão suficientes para melhorar a qualidade do ensino?
PENIN
- Caminha. Mas ainda temos problemas com recursos. Questionei o ministro Fernando Haddad [Educação] em quanto o PDE vai aumentar o investimento em educação. Ele me disse que não dará nem um ponto percentual [refere-se à porcentagem do PIB destinado à Educação no país, hoje em cerca de 4%]. Deveria subir para 7%, como os países que deram um salto fizeram.
O problema da educação está, em boa parte, nas verbas. Com essa proporção do PIB, fica difícil fazer uma revolução.


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