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Crítica de secretária é "leviana", diz professora
Para Sonia Penin, da USP, titular da Educação foi "simplista" ao dizer que cursos de pedagogia poderiam até ser fechados
Diretora da Faculdade de Educação admite problemas na formação de professores e defende pacto para melhorar a qualidade dos cursos
Alex Almeida/Folha Imagem
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Sonia Penin, professora e diretora da Faculdade de Educação da USP, critica declarações da secretária de Educação de São Paulo
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para a diretora da Faculdade
de Educação da USP, Sonia Penin, a secretária de Educação
de São Paulo foi "leviana" ao
afirmar que os cursos de pedagogia poderiam até ser fechados, de tantos problemas que
possuem -incluindo os da USP
e da Unicamp.
Em entrevistas à revista "Veja" e à Folha, a titular da pasta
de educação do governo José
Serra (PSDB), Maria Helena
Guimarães de Castro, afirmou
que os cursos de formação de
professores abordam muito a
teoria e se focam pouco na prática, o que seria uma das causas
para a má qualidade de ensino
em São Paulo e no país.
Penin -dirigente da Secretaria de Educação entre 1995 e
1999, no governo Mario Covas
(PSDB)- afirma que as declarações atrapalham um pacto
para melhoria na qualidade de
ensino público.
A necessidade da mobilização ficou mais evidente, diz,
após a divulgação dos resultados do Enem (Exame Nacional
do Ensino Médio), que apontaram que 75% das escolas estaduais na capital paulista tiveram notas menores do que a pior particular da cidade.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à
Folha por Penin. A secretária
da Educação não quis se manifestar sobre as críticas.
FOLHA - Como a sra. analisa as declarações da secretária?
SONIA PENIN - Foram um tanto
simplistas, levianas. A formação de professores realmente é
um problema, mas a solução seria fechar as faculdades? Deveríamos pensar em transformações, não em fechamento.
Um ponto importante a ser
considerado é que, devido à falta de valorização dos professores das escolas públicas, poucos
dos nossos alunos optam por
essa rede. Ou seja, respondemos por uma pequena porcentagem dos professores das escolas públicas.
A minha posição é da necessidade de um pacto. Precisamos, por exemplo, articular
melhor os estágios na rede pública. Por isso, a declaração da
secretária foi um desserviço.
Parece que a secretária quer se
eximir de culpa pela qualidade
do ensino. Mas a situação é tão
ruim que ninguém é inocente.
FOLHA - Uma das principais críticas
da secretária é que se discute muito
a teoria nas faculdades de Educação
e pouco do que será praticado dentro da sala de aula. Isso ocorre?
PENIN - Nossos cursos têm
uma parte muito grande de
prática de estágios, até por
questão legal [20% do currículo]. A teoria depende da prática
e vice-versa.
Independentemente disso,
há a necessidade de uma melhor articulação dos estágios
nas escolas públicas. Já conversei com a secretária, mas ainda
não foi feito.
FOLHA - Qual a culpa da universidade na má qualidade de ensino?
PENIN - Primeiramente, cabe
dizer que nossos professores
[formados na USP] geralmente
passam nos concursos públicos
e galgam posições muito rapidamente, o que mostra uma
boa qualidade na formação. Isso não significa que não haja
problemas. Sempre precisamos
melhorar.
A formação em qualquer profissão tem de ser continuada,
em cima de problemas concretos. Isso se dá a partir da articulação entre as instituições formadores e as empregadoras, as
secretarias de Educação.
Um dos grandes desafios é a
mudança no alunado. Atualmente, toda a gama da sociedade, felizmente, está na escola.
Isso traz impactos, como violência, drogas.
FOLHA - A Secretaria de Educação
implementou diversas medidas para melhorar a qualidade de ensino,
como um bônus de produtividade
para professores e funcionários. Como a sra. avalia essas medidas?
PENIN - Primeiramente, incentivar é fundamental. Mas todas
essas propostas devem ser discutidas com a própria rede.
Mesmo as boas propostas, se
não bem discutidas, ficam
ruins. A gente viu a progressão
continuada. Toda a teoria mostra ser importante, mas, se não
há adesão de todos, fica difícil.
FOLHA - O governo federal lançou
no ano passado o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), e iniciativas semelhantes ocorrem em
vários Estados, inclusive São Paulo.
Os projetos serão suficientes para
melhorar a qualidade do ensino?
PENIN - Caminha. Mas ainda
temos problemas com recursos. Questionei o ministro Fernando Haddad [Educação] em
quanto o PDE vai aumentar o
investimento em educação. Ele
me disse que não dará nem um
ponto percentual [refere-se à
porcentagem do PIB destinado
à Educação no país, hoje em
cerca de 4%]. Deveria subir para 7%, como os países que deram um salto fizeram.
O problema da educação está, em boa parte, nas verbas.
Com essa proporção do PIB, fica difícil fazer uma revolução.
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