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SEM ÁGUA
Chuvas irregulares impedem que haja colheita em 22 municípios cearenses, atingindo 2,5 milhões de pessoas
'Seca verde' destrói 85% da safra no CE
Jarbas Oliveira / Folha Imagem
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O agricultor Francisco Eusébio Ferreira (ao lado dos filhos na foto), 51, pegou uma nota de um real pela última vez no último dia 15 de janeiro. Ganhou na época R$ 15 por um trabalho feito para um fazendeiro.
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PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza
A "seca verde" que assola o
Ceará já destruiu cerca de 85% da
produção agrícola do Estado e
seus efeitos atingem aproximadamente 2,5 milhões de pessoas.
Os dados são de um levantamento da Fetraerce (Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do
Ceará), feito nas nove regiões geográficas do Estado.
Na definição popular, "seca
verde" é um tipo de estiagem na
qual as chuvas ocorrem irregularmente, criam uma vegetação, permitem o florescimento das plantações, mas são insuficientes para
permitir que haja colheita.
"É a pior seca que tem porque
ilude o agricultor. Ele planta, engana-se com o verde aparente,
mas tem o maior prejuízo na hora
da colheita", diz César Gondim,
secretário-geral da Fetraerce.
O fenômeno afeta diretamente o
fornecimento de água e a pecuária.
Pelo menos 22 dos 184 municípios
cearenses estão sendo abastecidos
por carros-pipa. Segundo a Fetraerce, 40% do rebanho bovino já
foi vendido ou abatido.
Como não choveu, os efeitos da
seca foram aparecendo em manifestações e saques disseminados
pelo interior. Desde o início de
março, ocorreram 32 manifestações populares e três saques.
Em todas elas, a pauta de reivindicações era a mesma de secas anteriores: criação de empregos, distribuição de alimentos e água.
As manifestações adquiriram
um caráter mais radical. Na quarta-feira, um grupo de 280 agricultores invadiu a BR-020 e criou o
"pedágio da fome" na entrada
de Tauá (410 km de Fortaleza).
Armados de enxadas e foices,
eles montaram uma barreira na
estrada e só deixavam os caminhões passar se os motoristas contribuíssem com algum tipo de alimento. O motorista de um caminhão carregado de farinha se recusou e teve sua carga saqueada.
Na quinta-feira passada, o clima
de tensão chegou às cidades da região do Sertão Central, onde 98%
da produção agrícola está perdida.
Organizadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), cerca de 800 pessoas
acamparam em frente às prefeituras de Madalena e Canindé e lá
pretendem ficar até que suas reivindicações sejam atendidas.
A resposta do governo cearense
veio com o anúncio de um programa de combate à seca, que prevê
investimento de R$ 66 milhões em
obras de infra-estrutura e a criação de 39 mil bolsas de trabalho e
20 mil bolsas de alfabetização.
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