São Paulo, segunda, 27 de abril de 1998

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Na Paraíba, seca se aproxima da capital

ADELSON BARBOSA
em João Pessoa

A seca no interior da Paraíba está atacando diretamente a população e os animais, e já dizimou a agricultura de subsistência em quase todo o Estado.
Consequência do fenômeno meteorológico "El Niño", a estiagem está atingindo até os municípios que ficam na região do Brejo, num raio de 80 km da capital João Pessoa, onde chove regularmente.
Pelo menos 184 dos 223 municípios paraibanos estão em estado de calamidade pública por causa da seca, segundo a Defesa Civil.
Entre março e abril, 1.600 trabalhadores rurais famintos invadiram 13 municípios do sertão. Segundo a PM, eles saquearam depósitos de merenda escolar em Piancó, Lagoa, Bonsucesso, Uiraúna, Cajazeiras e Conceição, e o comércio de Riacho dos Cavalos. Nos outros seis municípios, as tentativas de saques foram controladas pela PM, graças às promessas das prefeituras de distribuir alimentos.
As regiões mais afetadas pela seca são o sertão, Cariri e Curimataú, que correspondem a 70% do território paraibano. No sertão, onde a chuva ficou este ano 35% abaixo da média, está ocorrendo a chamada seca verde.
As chuvas ocorridas na maioria dos municípios sertanejos transformaram a paisagem: a caatinga (vegetação da região), que estava seca e pegava fogo facilmente, ficou verde. Mas elas não foram suficientes para que a água se acumulasse nos reservatórios, nem possibilitaram a formação de pastagens para os animais.
Nos últimos quatro meses as chuvas no Cariri e no Curimataú não atingiram 100 mm, segundo o Laboratório de Meteorologia da Paraíba. Em períodos normais, a média de chuvas na região atinge 400 mm. Em vários municípios das três regiões não chove há pelo menos um ano.
O governo do Estado desativou completamente os sistemas de abastecimento de 30 municípios, que estão sendo servidos por carros-pipa ou poços artesianos. Em outros 70, os sistemas de abastecimento estão sendo desativados.
A água dos poços artesianos não serve para beber, por causa do alto teor de sal. Mesmo assim, muita gente está sendo obrigada a consumi-la. Para amenizar a situação, o governo está providenciando a transposição de água dos grandes açudes para os municípios mais próximos.
Na zona rural, a população é obrigada a beber a lama que resta em alguns açudes. Uma das cenas mais comuns é a presença de pequenos, médios e grandes açudes completamente secos. A água consumida pela população tem contribuído para aumentar os índices de diarréia e outras doenças, principalmente em crianças.
Na maioria dos municípios, o comércio de água virou um bom negócio para donos de carros-pipa. Eles levam água de João Pessoa, Natal, Campina Grande, Patos e Taperoá e vendem a lata de 20 litros por preços que variam de R$ 0,30 (água barrenta) a R$ 2 (água de boa qualidade e tratada). Um botijão de 20 litros de água mineral em João Pessoa custa R$ 1,50.



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