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Na Paraíba, seca se
aproxima da capital
ADELSON BARBOSA
em João Pessoa
A seca no interior da Paraíba está
atacando diretamente a população
e os animais, e já dizimou a agricultura de subsistência em quase
todo o Estado.
Consequência do fenômeno meteorológico "El Niño", a estiagem
está atingindo até os municípios
que ficam na região do Brejo, num
raio de 80 km da capital João Pessoa, onde chove regularmente.
Pelo menos 184 dos 223 municípios paraibanos estão em estado
de calamidade pública por causa
da seca, segundo a Defesa Civil.
Entre março e abril, 1.600 trabalhadores rurais famintos invadiram 13 municípios do sertão. Segundo a PM, eles saquearam depósitos de merenda escolar em Piancó, Lagoa, Bonsucesso, Uiraúna,
Cajazeiras e Conceição, e o comércio de Riacho dos Cavalos. Nos outros seis municípios, as tentativas
de saques foram controladas pela
PM, graças às promessas das prefeituras de distribuir alimentos.
As regiões mais afetadas pela seca são o sertão, Cariri e Curimataú,
que correspondem a 70% do território paraibano. No sertão, onde a
chuva ficou este ano 35% abaixo
da média, está ocorrendo a chamada seca verde.
As chuvas ocorridas na maioria
dos municípios sertanejos transformaram a paisagem: a caatinga
(vegetação da região), que estava
seca e pegava fogo facilmente, ficou verde. Mas elas não foram suficientes para que a água se acumulasse nos reservatórios, nem
possibilitaram a formação de pastagens para os animais.
Nos últimos quatro meses as
chuvas no Cariri e no Curimataú
não atingiram 100 mm, segundo o
Laboratório de Meteorologia da
Paraíba. Em períodos normais, a
média de chuvas na região atinge
400 mm. Em vários municípios das
três regiões não chove há pelo menos um ano.
O governo do Estado desativou
completamente os sistemas de
abastecimento de 30 municípios,
que estão sendo servidos por carros-pipa ou poços artesianos. Em
outros 70, os sistemas de abastecimento estão sendo desativados.
A água dos poços artesianos não
serve para beber, por causa do alto
teor de sal. Mesmo assim, muita
gente está sendo obrigada a consumi-la. Para amenizar a situação, o
governo está providenciando a
transposição de água dos grandes
açudes para os municípios mais
próximos.
Na zona rural, a população é
obrigada a beber a lama que resta
em alguns açudes. Uma das cenas
mais comuns é a presença de pequenos, médios e grandes açudes
completamente secos. A água consumida pela população tem contribuído para aumentar os índices
de diarréia e outras doenças, principalmente em crianças.
Na maioria dos municípios, o
comércio de água virou um bom
negócio para donos de carros-pipa. Eles levam água de João Pessoa,
Natal, Campina Grande, Patos e
Taperoá e vendem a lata de 20 litros por preços que variam de R$
0,30 (água barrenta) a R$ 2 (água
de boa qualidade e tratada). Um
botijão de 20 litros de água mineral
em João Pessoa custa R$ 1,50.
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