São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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Movimentos sociais reivindicam espaço

DA SUCURSAL DO RIO

A demanda crescente por novas vagas no ensino superior fez surgir, na década de 90, movimentos sociais mais ativos na reivindicação de vagas para alunos carentes em universidades públicas.
A face mais visível desses movimentos são os cursos pré-vestibulares comunitários, em que professores voluntários dão aulas preparatórias para estudantes das camadas carentes da população.
A Educafro, ONG (organização não-governamental) que coordena cerca de 200 núcleos no Rio de Janeiro e em São Paulo, com 14 mil alunos, surgiu a partir de uma experiência de cursos iniciada em 1993 pela Pastoral do Negro da Igreja Católica no Rio de Janeiro.
A pressão desses grupos não se resume a preparar melhor os carentes. Nos últimos três anos, uma estratégia muito usada foi entrar na Justiça contra universidades públicas e Ministério da Educação para exigir isenção de taxa para alunos pobres nos vestibulares e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Os grupos também costumam chamar a atenção da imprensa com protestos, como o feito em 2001 na porta da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), quando um estudante negro simulou, por horas, estar preso a uma cruz. O objetivo era defender cotas para negros e estudantes da rede pública na universidade.
Na mesma linha de protestos do Educafro, nasceu no ano passado o MSU (Movimento dos Sem-Universidade). Além de chamar a atenção da imprensa, o grupo focaliza sua pressão na luta pela criação de uma universidade pública no Carandiru, em São Paulo, quando o presídio for desativado.
O MSU conseguiu que o vereador Beto Custódio (PT), de São Paulo, apresentasse um projeto, já aprovado na Câmara, de criação de uma Universidade Popular do Município. "Não adianta criar outra USP (Universidade de São Paulo), porque nós vamos continuar fora dela. Queremos uma nova universidade pública com vocação social e acesso garantido aos estudantes de baixa renda", diz Sérgio José Custódio, um dos coordenadores do MSU.
O movimento, inspirado no MST, costuma comparar em seus documentos a estrutura do ensino superior brasileiro à estrutura agrária, dizendo haver no Brasil dois latifúndios. Um é "o do ensino superior público, com poucas vagas e uma cerca de arame farpado do vestibular, e o outro é o do ensino privado, com muita oferta, mas com uma cerca de arame farpado de suas mensalidades".


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