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TRÂNSITO
Sindicatos da categoria recebiam 0,6% da arrecadação; para procurador, há desvio de finalidade dos recursos
Justiça barra repasse do DPVAT a corretores
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O desembargador José Kallás,
do Tribunal Regional Federal, determinou a suspensão dos repasses do DPVAT aos sindicatos dos
corretores de seguro do país.
Essas entidades vinham recebendo 0,5964% da arrecadação
do DPVAT (Seguro Obrigatório
de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Vias
Terrestres), conforme resolução
do CNSP (Conselho Nacional de
Seguros Privados), ligado ao Ministério da Fazenda. Em 2001, esse
percentual representou aproximadamente R$ 7,4 milhões.
A determinação do TRF, publicada no último dia 9, foi resposta
a um agravo de instrumento do
Ministério Público Federal, que
entrou com uma ação pedindo
também a devolução de R$ 47,6
milhões repassados a 25 Sincors
(sindicatos de corretores de seguro) entre os anos de 1995 e 2000.
A decisão de Kallás, válida até
que a ação seja julgada, diz que os
repasses devem ser depositados
judicialmente. A Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de
Seguros) afirma que já recorreu
da decisão, embora nem todos os
Sincors tenham sido notificados.
A Fenaseg (Federação das Empresas de Seguros Privados e de
Capitalização), responsável pela
distribuição dos recursos do
DPVAT, também diz não ter sido
informada pela Justiça.
O procurador André de Carvalho Ramos alega na ação que há
um desvio de finalidade na transferência de parte do DPVAT aos
Sincors. Ele afirma que esse dinheiro é "público", com a finalidade de indenizar parentes e vítimas de acidente de trânsito, e que
"a contratação do seguro obrigatório é feita sem qualquer participação dos corretores de seguro".
Os Sincors defendem a tese de
que a verba do DPVAT é "privada" e que eles disponibilizam serviços para, quando procurados,
orientar os beneficiários.
O procurador argumenta ainda
que os repasses aos Sincors são
ilegais porque foram instituídos
por resoluções, sem estarem previstos na legislação do DPVAT.
Os sindicatos começaram a receber uma parte da arrecadação
do seguro obrigatório em 1995. O
percentual, que era de 1,3% na
época, sofreu reduções. O desembargador Kallás, em sua decisão,
diz: "As leis que disciplinam a matéria, em seu bojo, não autorizam
a transferência de recursos às entidades particulares pelo consórcio que administra o DPVAT".
Destinação
O procurador Ramos afirma estar estudando novas contestações
sobre a destinação do dinheiro do
DPVAT. Em 2001, a arrecadação
foi de R$ 1,246 bilhão, dos quais
apenas 26,4% foram revertidos
para pagar as indenizações.
Mais de R$ 172 milhões foram
gastos com despesas administrativas -valor que corresponde a
mais de 80% dos gastos anuais da
CET (Companhia de Engenharia
de Tráfego) de São Paulo, a maior
empresa de trânsito do país.
Desse valor, segundo a Fenaseg,
os principais gastos são: R$ 53,7
milhões com despesas bancárias,
R$ 44,2 milhões com guias de arrecadação e postalização e R$ 23,6
milhões com investigação e regulação dos sinistros.
No total, houve 116.647 indenizações por acidentes de trânsito
no ano passado. Desde 1995, a
quantia arrecadada subiu 125%,
contra uma alta de 71% no pagamento das indenizações.
O valor do DPVAT cobrado dos
proprietário de veículos de passeio é de R$ 51,62. Do total, 45%
são destinados ao SUS (Sistema
Único de Saúde) e 5% ao Denatran. Ao pagamento de indenizações são reservados 33% do total
-quando as solicitações não
atingem esse percentual, a verba
fica em um fundo, como garantia
para pagamento futuro dos benefícios, que podem ser requisitados
20 anos depois do acidente.
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