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PASQUALE CIPRO NETO
"Escolas que as aulas da noite são iluminadas..."
Na semana passada, trocamos dois dedos de prosa sobre o emprego do conjunto "preposição + pronome relativo".
Partimos de uma questão do ITA
que pedia ao candidato que
apontasse o caso em que não se
seguia "a norma padrão escrita".
Na frase inadequada, encontrava-se a construção "...aqueles os
quais estamos acostumados..",
que, na escrita padrão, passa a
"...aqueles aos quais (ou "a que')
estamos acostumados".
Problemas como esse estão no
campo da regência, parte da gramática que estuda as relações que
se dão entre palavras ou orações.
Na frase do ITA, faltou a preposição "a", regida por "acostumados" (se estamos acostumados, estamos acostumados a algo).
Se a preposição é regida por
"acostumados", o termo "acostumados" é o regente. Qualquer semelhança com uma orquestra
não é mera coincidência, não, caro leitor. Assim como um regente
de orquestra rege os músicos, um
verbo regente rege uma preposição ("de", por exemplo, no caso
de "Gosto muito de você").
Na semana passada, vimos
também que, nas variedades
orais da língua, nem sempre se
verificam os mecanismos prescritos pela "norma padrão escrita"
no que diz respeito ao conjunto
"preposição + pronome relativo".
No dia-a-dia, freqüentemente
dizemos e ouvimos construções
como "Aquela moça, que o pai é
médico..." ou como "Os países que
eu fui...". Na escrita padrão, teríamos "Aquela moça, cujo pai é médico..." e "Os países a que/aos
quais fui...", respectivamente.
Há algum tempo, a Unicamp
fez a seguinte questão sobre o tema: "Todos os trechos citados
abaixo apresentam um problema
semelhante. Diga que problema é
esse e reescreva um dos trechos de
modo a adequá-lo à modalidade
escrita da língua portuguesa:
Se a gente ler esta reportagem
daqui a um ano, a gente vai perceber as marcas que esta reportagem não é moderna (amostra de
escrita de aluno do 1º grau);
Futebol, aquele esporte que faz
o povo vibrar ao ver a vitória do
time a qual se propõe a torcer
(amostra de aluno do 2º grau);
Existem escolas que as aulas da
noite são iluminadas à luz de velas (boletim da Associação dos
Professores do Estado de SP)".
Como se vê, não parece casual o
fato de os exemplos virem de três
"graus" distintos. Pois bem, caro
leitor, qual é o "problema" comum às três construções? O problema está justamente no estabelecimento das relações entre as
palavras e as orações, ou seja, o
problema é de regência. No primeiro caso, por exemplo, além
das desnecessárias repetições (de
"a gente" e de "esta reportagem"),
nota-se a falta da preposição
"de", regida pelo nome "marcas"
("as marcas de que ela não é...").
Na segunda frase, o problema
de regência está na passagem
"...time a qual se propõe a torcer".
No sentido em que foi empregado,
o verbo "torcer" rege "por" ou
"para" ("...time pelo qual/para o
qual se propõe a torcer").
Na terceira frase, em que se afirma que as aulas são iluminadas,
o problema de regência está na
passagem "...escola que as aulas...". Talvez fosse mais adequado dizer que as salas (que pertencem a essas escolas) são iluminadas com velas ou que as aulas são
ministradas à luz de velas. Teríamos, no caso, algo como "Existem
escolas cujas salas são iluminadas..." ou "...em que as aulas são
ministradas à luz de velas". É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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