São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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RELIGIÃO

Segundo a PM, cerca de 2 milhões de pessoas participaram da 13ª Marcha para Jesus; tom de combate domina evento

Evangélicos lotam Paulista no Corpus Christi

DA REPORTAGEM LOCAL

Em pleno dia de feriado católico, o de Corpus Christi, os evangélicos foram à luta. A retórica era de combate. Aparecia nos discursos, nas camisetas, escrita nas faixas, em bandeiras: assim 2 milhões de fiéis, segundo dados da Polícia Militar, tomaram ontem a Paulista, na 13ª edição da Marcha para Jesus. Começava pelo nome e lema da manifestação: "Marcha para Jesus 2005, Marchando pela Conquista das Nações".
A alusão guerreira ressurgia no maior hit de vendas entre os camelôs: camisetas imitando traje militar camuflado, a R$ 10, com o dístico "Exército de Deus" ou "Aliste-se nas tropas de Jesus". Faixas de delegações hostilizavam o demônio, como a da zona norte: "Renascer Parada de Taipas: Marchando com pés apostólicos, detonando o inferno e conquistando a terra prometida".
O bebê William Eduardo da Silva Jr., de um ano e meio, foi à marcha com a minicamisetinha verde e a identificação "Soldadinho de Cristo. Vim para Vencer".
O exército neopentecostal começou a desembarcar na Paulista às 10h, proveniente da avenida Dr. Arnaldo, próximo à estação Clínicas do metrô, rumo ao palco montado na Paulista.
As tropas de Cristo enfrentaram o sol de ontem sem recorrer ao tradicional vendedor de cervejas -não havia um único. Também não se viam fumantes. Na "prainha" da Paulista, como é conhecida a esquina com a rua Joaquim Eugênio de Lima, os bares lamentavam a queda do movimento.
"Nosso movimento caiu 30%. Cerveja, vendemos 10% do normal. Evangélico só bebe refrigerante", disse a gerente do Oásis Bar, Adalgisa Vieira Santos.
Apesar do rigor, o "povo de Deus", como os evangélicos se identificam, nem de longe lembrava os antigos crentes.
O apóstolo Estevan Hernandes, líder da Renascer em Cristo, que convocou a marcha, usava jeans e boné preto, enquanto sua mulher, a bispa Sônia, chacoalhava em um jeans justo, ao som das bandas gospel que se alternaram no palco. Teve música sertaneja, reggae, samba, rock para louvar Jesus, uma das marcas da Renascer.
A igreja é apenas uma das mais de mil denominações evangélicas existentes na cidade mas uma das que mais crescem. Segundo o bispo Gê, o deputado estadual Geraldo Tenuta (PSDB), contabiliza hoje, aos 18 anos, 500 mil fiéis.
Nada menos do que 850 igrejas evangélicas se fizeram representar oficialmente na marcha. A grande ausente foi a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, espécie de "rival" da Renascer no campo do televangelismo. Ambas têm canais de TV para cooptar novos fiéis.
Religião que mais cresce no país, 15% da população, segundo o IBGE, o evangelismo acredita em um Deus vivo, que opera milagres todo o tempo, só dependendo da fé do fiel.
Antes de sair de casa, a TV orientou que todos deveriam escrever um pedido e enfiar o papelzinho no sapato. A dona-de-casa Marlene Pereira, 44, conta que conseguiu se casar graças à tática. "Eu e meu noivo não tínhamos dinheiro, então coloquei no sapato um papel pedindo isso. Deus ajudou e ganhei o vestido, os móveis, tudo." Ontem, o pedido para que o marido se torne evangélico.
A conversão de parentes era o pedido mais comum. Em segundo lugar, os de emprego.
Realizada três dias antes da Parada Gay, a marcha se comparava todo o tempo com o evento. E não conseguiu evitar alfinetadas. Para cortar caminho, muitos fiéis entraram pelo Conjunto Nacional, onde toparam com uma exposição de fotos da Parada. No livro de visitas, um marchante escreveu: "Homossexuais idólatras assassinos, mentirosos e feiticeiros, não herdareis o reino dos céus".

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