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RELIGIÃO
Segundo a PM, cerca de 2 milhões de pessoas participaram da 13ª Marcha para Jesus; tom de combate domina evento
Evangélicos lotam Paulista no Corpus Christi
DA REPORTAGEM LOCAL
Em pleno dia de feriado católico, o de Corpus Christi, os evangélicos foram à luta. A retórica era
de combate. Aparecia nos discursos, nas camisetas, escrita nas faixas, em bandeiras: assim 2 milhões de fiéis, segundo dados da
Polícia Militar, tomaram ontem a
Paulista, na 13ª edição da Marcha
para Jesus. Começava pelo nome
e lema da manifestação: "Marcha
para Jesus 2005, Marchando pela
Conquista das Nações".
A alusão guerreira ressurgia no
maior hit de vendas entre os camelôs: camisetas imitando traje
militar camuflado, a R$ 10, com o
dístico "Exército de Deus" ou
"Aliste-se nas tropas de Jesus".
Faixas de delegações hostilizavam
o demônio, como a da zona norte:
"Renascer Parada de Taipas: Marchando com pés apostólicos, detonando o inferno e conquistando a terra prometida".
O bebê William Eduardo da Silva Jr., de um ano e meio, foi à
marcha com a minicamisetinha
verde e a identificação "Soldadinho de Cristo. Vim para Vencer".
O exército neopentecostal começou a desembarcar na Paulista
às 10h, proveniente da avenida
Dr. Arnaldo, próximo à estação
Clínicas do metrô, rumo ao palco
montado na Paulista.
As tropas de Cristo enfrentaram
o sol de ontem sem recorrer ao
tradicional vendedor de cervejas
-não havia um único. Também
não se viam fumantes. Na "prainha" da Paulista, como é conhecida a esquina com a rua Joaquim
Eugênio de Lima, os bares lamentavam a queda do movimento.
"Nosso movimento caiu 30%.
Cerveja, vendemos 10% do normal. Evangélico só bebe refrigerante", disse a gerente do Oásis
Bar, Adalgisa Vieira Santos.
Apesar do rigor, o "povo de
Deus", como os evangélicos se
identificam, nem de longe lembrava os antigos crentes.
O apóstolo Estevan Hernandes,
líder da Renascer em Cristo, que
convocou a marcha, usava jeans e
boné preto, enquanto sua mulher,
a bispa Sônia, chacoalhava em um
jeans justo, ao som das bandas
gospel que se alternaram no palco. Teve música sertaneja, reggae,
samba, rock para louvar Jesus,
uma das marcas da Renascer.
A igreja é apenas uma das mais
de mil denominações evangélicas
existentes na cidade mas uma das
que mais crescem. Segundo o bispo Gê, o deputado estadual Geraldo Tenuta (PSDB), contabiliza
hoje, aos 18 anos, 500 mil fiéis.
Nada menos do que 850 igrejas
evangélicas se fizeram representar oficialmente na marcha. A
grande ausente foi a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo
Edir Macedo, espécie de "rival" da
Renascer no campo do televangelismo. Ambas têm canais de TV
para cooptar novos fiéis.
Religião que mais cresce no
país, 15% da população, segundo
o IBGE, o evangelismo acredita
em um Deus vivo, que opera milagres todo o tempo, só dependendo da fé do fiel.
Antes de sair de casa, a TV
orientou que todos deveriam escrever um pedido e enfiar o papelzinho no sapato. A dona-de-casa
Marlene Pereira, 44, conta que
conseguiu se casar graças à tática.
"Eu e meu noivo não tínhamos
dinheiro, então coloquei no sapato um papel pedindo isso. Deus
ajudou e ganhei o vestido, os móveis, tudo." Ontem, o pedido para
que o marido se torne evangélico.
A conversão de parentes era o
pedido mais comum. Em segundo lugar, os de emprego.
Realizada três dias antes da Parada Gay, a marcha se comparava
todo o tempo com o evento. E não
conseguiu evitar alfinetadas. Para
cortar caminho, muitos fiéis entraram pelo Conjunto Nacional,
onde toparam com uma exposição de fotos da Parada. No livro
de visitas, um marchante escreveu: "Homossexuais idólatras assassinos, mentirosos e feiticeiros,
não herdareis o reino dos céus".
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