São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Após crise do PCC, secretário deixa cargo

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Nagashi Furukawa na sede da Secretaria da Administração Penitenciária, onde anunciou sua saída


Furukawa diz que "divergências ideológicas" com o secretário da Segurança, Abreu Filho, influenciaram sua decisão

Governador Lembo disse que cargo será ocupado interinamente por Luiz Carlos Catirse, funcionário de carreira da secretaria


FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas semanas após o início da pior crise de segurança da história de São Paulo, o secretário estadual da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, pediu demissão do cargo.
Os ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) foram ordenados de dentro dos presídios paulistas. Houve também 82 rebeliões.
Furukawa deixa a pasta num momento em que ficaram expostas publicamente suas divergências com o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho -que sai fortalecido do episódio.
Em entrevista à Folha, o ex-secretário que ficou no cargo por seis anos e cinco meses evitou críticas diretas a Saulo. Mas admitiu "divergências ideológicas e de ação" que dificultavam um trabalho conjunto. Também reclamou da falta de investigação da polícia sobre grupos criminosos que agiam dentro e fora das prisões.
No lugar de Furukawa fica interinamente o pedagogo Luiz Carlos Catirse, funcionário de carreira da secretaria.
Nos dias que se seguiram aos ataques, Lembo havia dito a aliados que analisaria a permanência de Furukawa assim que a crise passasse.
Segundo relatos de pessoas próximas ao governador, ele avaliava que Saulo agiu "com excelência" durante a crise. Já Furukawa teria tido um desempenho apenas "bom".
O secretário da Segurança foi um dos interlocutores mais freqüentes de Lembo durante os ataques. Ao mesmo tempo, o governador não escondeu suas críticas à pasta de Furukawa, como a entrada de celulares em presídios. Repetiu diversas vezes nos últimos dias que considera isso "um absurdo".

Natureza pessoal
Em seu pedido de demissão por escrito, Furukawa alegou razões de "natureza pessoal". Protocolar, Lembo agradeceu os serviços prestados e, em despacho, afirmou que a filosofia aplicada no sistema penitenciário por ele "será objeto de reflexão e futuras decisões".
Furukawa decidiu deixar o cargo na última segunda-feira. Mas o nome de Catirse só foi confirmado ontem de manhã, após Furukawa entregar sua carta de demissão ao governador. O ex-secretário ligou para seu subordinado e disse que Lembo gostaria de conversar com ele. Feito o convite, Catirse aceitou na hora.
Lembo cogitou nomear o secretário-adjunto da Segurança Pública, Marcelo Martins de Oliveira -o braço direito de Saulo. Ele é filiado ao PFL, mesmo partido do governador.
Com os dois afinados entre si, pensava Lembo, as divergências de ações acabariam. Ao aceitar a demissão de Furukawa, o governador acatou por ora sua indicação para a pasta.
Um ato de diretores de presídios que foram prestar solidariedade a Furukawa ontem, com a exibição de um vídeo com realizações de sua gestão, se transformou numa cerimônia de despedida, com choro do homenageado e de funcionários. Num discurso improvisado, Furukawa brincou: "Calma, gente. Não morri".
Furukawa estava no cargo desde dezembro de 1999. Durante o período, enfrentou centenas de fugas e dezenas de rebeliões, entre elas a de 2001, até então a maior ocorrida no Estado, envolvendo 29 unidades. A entrada de celulares em várias das 144 penitenciárias do Estado foi um motivo de desgaste constante durante sua gestão.
Nesses seis anos e cinco meses, a população carcerária de São Paulo mais do que dobrou: saltou de 53.117 para 124.446.
Furukawa costumava citar como realizações de sua gestão as 82 novas unidades entregues, que abriram 60 mil vagas no sistema prisional paulista. Mas o déficit hoje ainda é alto: 28.801 vagas.


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