São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009 |
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GILBERTO DIMENSTEIN As muralhas da rua Jericó
QUANDO tinha 24 anos, em 1997, Maria Aparecida (Cida) Araújo decidiu assumir publicamente que era gay e apostar todas as suas economias em abrir um bar para a clientela de lésbicas. Duas decisões já difíceis para quem tinha pouco dinheiro e cuja família, conservadora, veio do interior. Não sabia que estava entrando numa guerra. "Foram tantas as dificuldades que pensei diversas vezes em desistir. Se soubesse o que viria pela frente, nem começaria." A guerra só acabou definitivamente neste mês, quando, depois de 12 anos de processo judicial, saiu a sentença de que Cida Araújo tinha o direito de manter o seu bar. Depois de se formar em educação física e decidir assumir a homossexualidade, Cida Araújo escolheu o local para abrir o seu negócio -e aí começariam os problemas. "Fui ingênua, não sabia onde estava entrando." O local escolhido para o bar, chamado de Farol Madalena, fica entre um prédio de classe média e um templo budista, em frente a um fórum e uma escola pública. Como o ponto logo ficou badalado, vieram reclamações do prédio. As reclamações se concretizavam das mais diversas formas: ovos, sacos plásticos com água, garrafas de cândida, além de fiscais e carros da polícia. "Numa única noite, tive de enfrentar a visita de cinco carros da polícia. Certa vez, chorei no ombro de um fiscal. " A pressão acabou afetando sua saúde por causa do estresse. "Poderíamos fechar a qualquer momento, apesar de estarmos com a papelada em dia." Fez os reparos para reduzir o barulho -até porque, exatamente do seu lado, meditavam os budistas com seus silenciosos mantras. O jogo pesado, porém, era do prédio, que decidiu entrar na Justiça contra o Farol Madalena, alegando distúrbio da ordem. Em todos esses anos, o advogado de defesa sustentou que, por trás da ação, havia preconceito contra homossexuais. Neste mês, veio, enfim, a decisão judicial. Só agora, numa conversa sobre a sentença, Cida Araújo se deu conta do significado de estar numa rua chamada Jericó, centro de uma batalha épica descrita na Bíblia, quando foram derrubadas muralhas. Nesta semana, o Metrô inaugurou uma exposição de fotos com os personagens que compõem o espírito da Vila Madalena -em que foi incluída a imagem de Cida Araújo em seu bar. "Do meu jeito, derrubei algumas muralhas", brinca. PS - Uma seleção das fotos da exposição na estação Vila Madalena pode ser vista no catracalivre.com.br. gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Rio recorre da suspensão de cota em universidades Próximo Texto: Há 50 Anos Índice |
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