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Após protesto, diarista gasta "só" 2 h para ir ao trabalho
Usuária da zona sul encurtou trajeto em 30min após ônibus serem apedrejados
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na definição da diarista Zuleima Miranda, 38, o dia de ontem começou "tranquilo" -ela
demorou apenas duas horas
para chegar ao trabalho. Zuleima mora e trabalha em SP.
A diarista encurtou em cerca
de meia hora o tempo que leva
para ir do Jardim Aracati (zonal sul) até a alameda Casa
Branca (zona oeste) porque os
ônibus da linha Terminal Santo
Amaro, que ela pega para percorrer o primeiro trecho da viagem, saíram excepcionalmente
no horário.
"Está cheio de fiscal aqui,
mas é só por causa do que houve ontem", diz Zuleima, sobre a
revolta dos passageiros na segunda, durante a espera pelos
ônibus que não chegavam. Nove veículos foram apedrejados.
"Com vocês [a imprensa]
aqui, eles [os fiscais] vão mais é
querer mostrar trabalho", afirma a diarista Lucineide Almeida, 26, que costuma acordar às
4h40 para conseguir chegar ao
Brooklin, zona sul, às 8h.
O fiscal Danilo Durval, da
empresa VIP, dona dos ônibus
daquela linha, afirma que, de
fato, foi trabalhar mais cedo.
"Costumava pegar às 7h, mas,
com a confusão de segunda-feira, me disseram [na empresa]
que era para chegar às 3h50."
O fiscal da SPTrans não quis
falar, nem se identificar. Disse
apenas que estava encarregado
de uma "operação programada", sem explicar o jargão.
A assessoria de imprensa da
empresa diz que a fiscalização
da saída dos ônibus é responsabilidade dos funcionários do
consórcio. Diz ainda que a VIP
foi multada e que a SPTrans esteve no local ontem para verificar se os fiscais estavam cumprindo o horário (antes das 4h).
Culpa dos motoristas
Enquanto aguardam o embarque em três filas paralelas,
os passageiros reafirmam o que
Zuleima disse: "Hoje isso aqui
está ótimo. Normalmente, são
cinco, seis filas, e muito maiores", afirma o serralheiro Erivan Ferreira, 35.
A auxiliar de faturamento
Isabel Cavalcante, 48, diz que a
culpa dos atrasos é dos motoristas. "Ficam na maior moleza,
conversando dentro dos ônibus
apagados. A gente espera 15, 20
minutos, e eles lá..."
O motorista Elias Maciel, 50,
há 20 anos na função, diz que "é
isso mesmo". "A maioria [dos
motoristas] fica de conversa,
não tá nem aí". Ao volante de
outro ônibus, Wagner Rodrigues, 36, diz que é orientado a
aguardar a autorização feita via
GPS (contato remoto) para poder iniciar a viagem.
Danilo Durval, fiscal da VIP,
diz que as autorizações se dão
em intervalos de oito minutos,
independentemente da quantidade de pessoas na fila. E que,
se um carro quebra, o de trás
assume o horário. "Se quebra,
aí é que a gente não sai mais daqui", diz o usuário Sidney Soares, 34, oficial de produção.
A reportagem entrou na fila
às 5h45, com Zuleima, para fazer o percurso até a alameda
Casa Branca (um total de 29,1
km). Casada com um confeiteiro (que está pedreiro), mãe de
três filhos, ela deixa a menorzinha na creche às 5h15.
Em vez de fazer baldeação no
terminal Santo Amaro, Zuleima prefere saltar antes, na avenida M'Boi Mirim, e pegar a linha Pinheiros, que "chega mais
rápido, pela marginal".
Na calçada do ponto, Zuleima tenta acertar [como dezenas de outros passageiros] o lugar onde a porta vai ficar quando o ônibus parar -e assim ser
uma das primeiras a embarcar.
Ela diz que prefere pegar o ônibus naquela parada porque "já
enche logo de gente e vai direto,
sem parar em nenhum ponto".
Ainda está escuro. "A viagem
está sendo tranquila", repete
ela dentro do ônibus lotado.
Mais 20 minutos e se avista a
marginal Pinheiros. Pouco
tempo depois, Zuleima desce
na avenida Cidade Jardim.
Troca de novo de linha, agora
para ir até a avenida Nove de
Julho. Seus olhos se enchem de
lágrimas quando desce, quase
às 8h. Ela diz que "é só um sonho". "Seria tão bom poder viver aqui, com meus filhos, em
segurança". Ela anda até a alameda Lorena, entra na padaria
para comprar pão para a patroa
e cumprimenta o balconista.
Mais divertida que amarga,
Zuleima sorri e diz para o repórter e o fotógrafo: "Já pensou
se vocês tivessem que passar
por tudo isso diariamente pra
trabalhar?"
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