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Procurador quer volta de menino para os EUA
Juiz do Rio vai analisar recomendação; norte-americano pede a guarda do filho, trazido para o país por mãe brasileira
Ministério Público Federal considera que criança deveria ter sido devolvida ao pai desde a morte de
sua mãe, no ano passado
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério Público Federal
no Rio recomendou à Justiça
que ordene o retorno para os
Estados Unidos do menino envolvido em uma disputa entre o
pai americano e a família da
mãe brasileira, morta em 2008.
O parecer foi entregue à Justiça federal no Rio, anteontem,
mesmo dia em que o garoto
completou nove anos de idade.
O Ministério Público Federal
sugere que, antes do retorno,
haja um período de transição.
O relatório do procurador
Gustavo Magno de Albuquerque, a que a Folha teve acesso,
segue a linha da perícia realizada em março a pedido da Justiça. Ele conclui que as dificuldades de readaptação serão "suplantadas pelos benefícios decorrentes da normalização de
seu convívio com o pai".
O caso será analisado pelo
juiz Rafael de Souza Pereira
Pinto. O processo está sob segredo de Justiça.
O menino foi retirado dos
EUA pela mãe em 2004, aos
quatro anos, para passar um
mês com a família brasileira.
Pouco depois de chegar ao Brasil, Bruna Bianchi avisou ao
marido, David Goldman, que o
casamento havia terminado e
que ficaria no país com o filho.
Em agosto de 2008, quando
ainda enfrentava Goldman na
Justiça, Bruna morreu ao dar à
luz à filha do novo casamento,
com o advogado João Paulo
Lins e Silva. Para o procurador,
o menino deveria ter voltado
aos EUA neste momento.
"A retenção indevida (...) no
território brasileiro pelo padrasto tornou-se efetiva quando do falecimento da mãe do
menor, em 22 de agosto de
2008. Certo é que, desde então,
(...) deveria estar sob a guarda
do genitor, (...) apto a exercer
plenamente o poder familiar
sobre o menor", diz.
Albuquerque considera que a
discussão sobre a guarda do
menino -o padrasto tenta obter paternidade socioafetiva-
só deve ocorrer após decidido o
destino da criança.
Ele cita um laudo da perícia
segundo o qual a adaptação no
Brasil "se dá com sérios danos
psíquicos". Embora reconheça
a ligação da criança com os
avós maternos e a irmã, o procurador diz que o convívio com
o pai é fundamental. Para evitar um trauma, sugere uma
transição, com prazo dado pela
Justiça.
Críticas
O advogado da família brasileira, Sergio Tostes, disse que o
parecer é "distorcido e tendencioso". Ele alega que o relatório
e o laudo das peritas desconsideram a vontade do garoto de
ficar no Brasil. Tostes defende
que o garoto seja ouvido pelo
juiz e afirma que "a Convenção
de Haia dá prevalência absoluta
à vontade da criança".
"Em sete vezes [durante entrevista às peritas] o menino falou que quer ficar no Brasil. Este foi o pior presente de aniversário que poderia receber, prenuncia que o juiz vai decidir pela devolução aos EUA, um absoluto desrespeito à vontade do
menino. Espero que o juiz tenha o bom senso de decidir de
acordo com o melhor interesse
da criança", disse Tostes.
Procurado pela reportagem,
o advogado de Goldman, Ricardo Zamariola, preferiu não se
manifestar sobre o parecer.
Colaborou DENISE MENCHEN , da Sucursal do
Rio
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