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Maioria é condenada por tráfico de droga
DE MADRI
Deixam o Brasil com a intenção
de voltar nove ou dez dias depois,
mas tardam em média nove anos
para cumprir a promessa de regressar às suas casas. A história se
repete entre os brasileiros presos
na Espanha, em sua maioria por
tráfico de drogas.
"Disse para a minha mãe que
voltaria logo. Dois dias depois, liguei para ela para contar que estava preso e que não voltaria para
casa. Foi o pior momento da minha vida", diz o paulista E.C.R.,
34, preso em agosto de 1998 e condenado há nove anos de prisão.
Como ele, os brasileiros que entram na Espanha carregando drogas no corpo não tinham a intenção de deixar o Brasil. São os
"aviões", trabalham carregando
drogas e, depois de fazer a entrega, regressam para o Brasil com
US$ 5 mil a US$ 7 mil no bolso.
Mas muitos não voltam. Dos 91
presos (61 homens e 30 mulheres), a maioria foi detida em flagrante ainda no aeroporto por
tráfico de drogas e condenada a
nove anos de prisão.
"Era a minha terceira viagem.
Ao chegar em Madri, um policial
pediu para revistar a minha mala.
Enquanto caminhava para o local
indicado, ele raspou a mão em
minha cintura e descobriu a fita
de drogas presa ao meu corpo.
Perdi o chão, minha cabeça rodava e a única certeza que tinha é a
de que havia perdido a liberdade", diz Augusta Adélia Bruch, 37,
condenada a nove anos.
Augusta se casou há cinco meses na prisão com um espanhol,
de 29 anos, que conheceu na enfermaria da penitenciária. "Mas
ainda não sei se quero morar na
Espanha", afirma.
Os primeiros meses de prisão,
segundo os brasileiros, são os
mais difíceis. "É difícil se acostumar a um país diferente, ainda
mais preso. Os telefonemas, as
cartas e as datas importantes perdidas no Brasil doem demais", diz
o paulista, que foi preso com 1,3
quilo de cocaína prensada escondida em um tênis plataforma.
A principal justificativa dos brasileiros para a viagem é o dinheiro
obtido com o transporte.
O serviço de E.C.R. renderia
US$ 5 mil, o suficiente para iniciar
uma fábrica de sapatos em Franca. "Não tinha trabalho nem dinheiro. Estava desesperado."
Há quatro anos, quando A.N.,
58, chegou a Madri com pacotes
de drogas atados ao corpo, justificou sua "aventura" como uma
forma de conseguir dinheiro para
pagar uma cirurgia do neto.
Foi presa no aeroporto, condenada a nove anos e não conseguiu
ajudar o neto.
Entre os sonhos desses presos
está o de voltar para o Brasil com a
"ficha limpa". Se cumprem o total
da pena, a passagem pela Espanha
não constará no Brasil.
"Não vou querer nunca mais
voltar para esse país. Estou aqui
há três anos e as únicas coisas que
conheço são o aeroporto e a penitenciária. Quero voltar para o Brasil com um passado limpo e recomeçar a minha vida", afirma o
paulista.
(LC)
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