São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

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Maioria é condenada por tráfico de droga

DE MADRI

Deixam o Brasil com a intenção de voltar nove ou dez dias depois, mas tardam em média nove anos para cumprir a promessa de regressar às suas casas. A história se repete entre os brasileiros presos na Espanha, em sua maioria por tráfico de drogas.
"Disse para a minha mãe que voltaria logo. Dois dias depois, liguei para ela para contar que estava preso e que não voltaria para casa. Foi o pior momento da minha vida", diz o paulista E.C.R., 34, preso em agosto de 1998 e condenado há nove anos de prisão.
Como ele, os brasileiros que entram na Espanha carregando drogas no corpo não tinham a intenção de deixar o Brasil. São os "aviões", trabalham carregando drogas e, depois de fazer a entrega, regressam para o Brasil com US$ 5 mil a US$ 7 mil no bolso.
Mas muitos não voltam. Dos 91 presos (61 homens e 30 mulheres), a maioria foi detida em flagrante ainda no aeroporto por tráfico de drogas e condenada a nove anos de prisão.
"Era a minha terceira viagem. Ao chegar em Madri, um policial pediu para revistar a minha mala. Enquanto caminhava para o local indicado, ele raspou a mão em minha cintura e descobriu a fita de drogas presa ao meu corpo. Perdi o chão, minha cabeça rodava e a única certeza que tinha é a de que havia perdido a liberdade", diz Augusta Adélia Bruch, 37, condenada a nove anos.
Augusta se casou há cinco meses na prisão com um espanhol, de 29 anos, que conheceu na enfermaria da penitenciária. "Mas ainda não sei se quero morar na Espanha", afirma.
Os primeiros meses de prisão, segundo os brasileiros, são os mais difíceis. "É difícil se acostumar a um país diferente, ainda mais preso. Os telefonemas, as cartas e as datas importantes perdidas no Brasil doem demais", diz o paulista, que foi preso com 1,3 quilo de cocaína prensada escondida em um tênis plataforma.
A principal justificativa dos brasileiros para a viagem é o dinheiro obtido com o transporte.
O serviço de E.C.R. renderia US$ 5 mil, o suficiente para iniciar uma fábrica de sapatos em Franca. "Não tinha trabalho nem dinheiro. Estava desesperado."
Há quatro anos, quando A.N., 58, chegou a Madri com pacotes de drogas atados ao corpo, justificou sua "aventura" como uma forma de conseguir dinheiro para pagar uma cirurgia do neto.
Foi presa no aeroporto, condenada a nove anos e não conseguiu ajudar o neto.
Entre os sonhos desses presos está o de voltar para o Brasil com a "ficha limpa". Se cumprem o total da pena, a passagem pela Espanha não constará no Brasil.
"Não vou querer nunca mais voltar para esse país. Estou aqui há três anos e as únicas coisas que conheço são o aeroporto e a penitenciária. Quero voltar para o Brasil com um passado limpo e recomeçar a minha vida", afirma o paulista. (LC)









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