|
Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Gestão Alckmin derrubou árvores sem autorização a fim de realizar estudos para construção do trecho sul, ainda não autorizado
Estado desmata em área do futuro Rodoanel
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Geraldo Alckmin
(PSDB) foi multado por desmatar
áreas de mananciais sem autorização dos órgãos ambientais do
próprio Estado e é acusado de invadir propriedades às margens da
represa Billings, em São Bernardo
do Campo, sem conhecimento
dos proprietários. O objetivo seria
realizar estudos topográficos para
a construção do trecho sul do Rodoanel, ainda não aprovada.
A Dersa foi multada pelo DUSM
(Departamento do Uso do Solo
Metropolitano) em R$ 42.826 em
razão disso -o laudo diz que
houve desmatamento em áreas de
proteção como nascentes, margens de cursos d'água e reservatórios. Também foi feito o corte de
vegetação em topos de morros e
em locais com declividade acentuada, o que facilita a erosão e desabamentos de barrancos.
Os cortes ocorreram em áreas
onde o Estado planeja desapropriar para dar início à obra que
Alckmin, cotado para ser o candidato do PSDB à Presidência, considera uma das prioridades de sua
gestão. A intenção do governo era
começar as obras neste mês, mas,
após intervenção da Justiça, ainda
não há prazo para isso (leia texto
nesta página).
O DEPRN (Departamento Estadual de Preservação dos Recursos
Naturais) também autuou três vezes a Dersa, num total de R$ 1.763.
"É o Estado autuando o próprio
Estado por uma precipitação cometida. Vamos exigir a compensação ambiental e medidas mitigadoras pelo dano", diz o engenheiro florestal Alexandre Pereira
Cavalcanti, diretor do órgão.
Segundo ele, a Dersa cometeu
uma infração ambiental e a polícia fará nova fiscalização nessas
áreas. Ele disse, entretanto, que o
secretário dos Transportes, Dario
Rais Lopes, conversou com o secretário do Meio Ambiente, José
Goldemberg, e afirmou que os estudos serão suspensos hoje.
Licença ambiental
"A Dersa não poderia ter feito o
desmatamento sem a licença ambiental. Se fosse imprescindível
fazer o estudo para o projeto executivo, antes de obter a licença, ela
deveria ter avisado o DUSM para
que a gente acompanhasse o processo, falasse com os proprietários e colocasse limites ao desmatamento", afirmou a diretora de
serviços do DUSM na Billings,
Maria do Carmo Maruca Nartis.
Segundo ela, as obras de medição topográfica foram embargadas. As trilhas, de acordo com a
diretora, têm aproximadamente
dois metros de largura e extensão
que varia de 200 metros a 600 metros. Elas ficam em diferentes
pontos -nas estradas Ribeirão
do Soldado, Brasílio de Lima e da
Pedra Branca, e na avenida Nicola
Demarchi-, mas todas têm em
comum marcações em vermelho
em troncos ao longo do caminho.
O técnico notou que o trajeto foi
aberto a golpes de facão, segundo
a diretora. Os moradores confirmam: dizem ter sido pegos de
surpresa com estranhos em seus
terrenos e que não ouviram barulho de motosserras. Uma proprietária de uma chácara no bairro
Botujuru, que não quis se identificar, notou o desmatamento somente dias depois, quando passou com o carro e viu uma abertura na mata em seu terreno.
Até agora, existem quatro boletins de ocorrência feitos por moradores e a Dicma (Delegacia de
Investigação de Crimes contra o
Meio Ambiente) instaurou um
inquérito para apurar o caso.
Segundo o delegado Antonio
Tavares Pereira Caldas Mesquita,
faltam o laudo do Instituto de Criminalística e ouvir testemunhas
para concluir as investigações.
"A Dersa disse que tinha permissão do DEPRN para fazer o
corte de vegetação, mas até agora
não trouxe a autorização", afirmou o delegado. Uma das empresas contratadas pela Dersa para
fazer estudo topográfico no local
disse ao delegado que não pediu
autorização porque pensou que a
Dersa já havia cuidado de tudo.
Flagrante
O Ministério Público Federal e
Estadual também investigam o
caso: um dos boletins de ocorrência foi feito após a procuradora
Ana Cristina Bandeira Lins ter flagrado trabalhadores desmatando
o local, em abril. Foram apreendidos facões, martelos e marretas.
"Eu lamento que a Dersa tenha
desmatado sem autorização. O
Estado não pede uma permissão
que ele mesmo exige", disse a procuradora. No entanto ela ressalta
que não é contra o estudo, que pode minimizar o impacto da obra.
"Não questiono o estudo, mas a
falta de autorização", afirmou.
Já a promotora Rosângela Staurenghi abriu procedimento para
obter informações sobre os desmatamentos denunciados pelos
moradores. Segundo ela, a Dersa
(Desenvolvimento Rodoviário
S.A.) terá de reparar os danos ambientais causados. "Faremos um
termo de ajustamento de conduta
se a Dersa resolver reparar os danos por conta própria ou vou
ajuizar uma ação civil pública."
Segundo ela, os proprietários de
chácaras podem processar a Dersa por invasão de propriedade. "A
legislação de proteção de mananciais é do Estado. Que exemplo o
poder público dá quando, em vez
de proteger essas áreas, vai lá e
desmata?", indagou.
Próximo Texto: Saiba mais: Obra ainda não tem autorização para ser iniciada Índice
|