São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2005

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DIVERSIDADE SEXUAL

Ritmo de Carnaval marcou evento, que, segundo a PM, reuniu 400 mil; para organizadores, mais de 1 milhão

Rio diz ter Parada Gay "mais bela do mundo"

Márcio Mercante/ Agência O Dia
As cantoras Marina Lima e Fernanda Abreu se beijam durante a abertura da 10ª Parada Gay do Rio


FERNANDA MENA
DA SUCURSAL DO RIO

"São Paulo que nos desculpe, mas beleza é fundamental." Ao parafrasear o poeta Vinícius de Moraes, o casal Toni Reis, 41, e David Harrat, 46, resumiu uma das três principais diferenças entre as duas maiores manifestações homossexuais do país: o cenário, o número de participantes e a vocação carnavalesca.
Para competir com o título de "maior parada gay do mundo", conquistado por São Paulo, o Rio de Janeiro cunhou a máxima "a parada mais linda do mundo", e a orla de Copacabana -onde ontem a 10ª Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) começou com um beijo entre as cantoras Marina Lima e Fernanda Abreu- torna o slogan de difícil contestação.
"Aqui nós temos a praia, o mar, o Pão de Açúcar e o imaginário de sensualidade do Rio", explica o brasilianista James N. Green, da Universidade Brown, de cima de um dos 18 carros alegóricos da parada. Para ele, que freqüenta o ato desde a primeira edição, tanto a parada do Rio quanto a de São Paulo são uma espécie de "Carnaval da política". Mas é só circular pelo evento para perceber que, durante a festa, a avenida Atlântica se torna numa espécie de passarela popular gay de Carnaval.
No carro da escola de samba Tradição, a bateria levou para a avenida seus sambas-enredos e arriscou funks feitos com batuques. No carro das lésbicas, colares havaianos, purpurina, tiaras com antenas e perucas "black power" de tule colorido. No alto do carro dos travestis, dois transgêneros rebolavam em fantasias feitas com pés de alface crespa.
Rodrigo Alves reaproveitou a roupa de plumas que usou para desfilar na Beija-Flor. Deise Quevedo, 38, comprou uma coroa e um corpete de plumas e paetês para estrear na Parada Gay.

Megalomania
"Já éramos a quinta maior parada gay do mundo e, hoje, nos tornamos a segunda maior do mundo", disse Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris -organizador da Parada Gay carioca. Mas os números oficiais do evento foram tão díspares que se torna impossível precisar o público presente. Enquanto a Polícia Militar estimou em 400 mil o número de participantes, os organizadores divulgaram que 1 milhão de pessoas estiveram na avenida.
"Não podemos confiar em um dado da polícia que integra um governo que nos ignora e desprestigia, além de insistir em misturar política e religião", afirmou Nascimento. "Agora o Brasil reúne as duas maiores Paradas Gays do mundo", comemorou ele.
A abertura da parada contou com as presenças do ministro-chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal, Nilmário Miranda, e do ator Sérgio Mamberti, secretário da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
Mas a grande atração do carro dos organizadores foi o ex-BBB Jean Wyllys, premiado com o Troféu Arco-Íris de Direitos Humanos e ovacionado pelo público. Wyllys nega, mas correu a notícia de que havia tentado cobrar um cachê de R$ 10 mil dos organizadores para participar do evento. "Temos de deixar claro que retidão de caráter não tem nada a ver com orientação sexual", disse. Do público, veio um grito: "Passiva!".

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