São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Familiares admitem elo de vítimas com o PCC, mas acusam policiais de abuso

DA REPORTAGEM LOCAL

No IML (Instituto Médico Legal) de São Bernardo do Campo, para onde 10 dos 13 corpos foram levados, familiares admitiram o envolvimento dos suspeitos com a facção criminosa PCC, mas afirmaram que eles foram mortos sem chance de se defender.
Oficialmente a polícia fala que os bandidos morreram durante troca de tiros no ABC.
"Quando ele falou para a gente que estava no PCC, a família ficou aflita", declarou a irmã de um dos mortos.
"Ele era bandido, já tinha sido preso antes, mas agora foi executado. Ele nem estava no local do tal tiroteio com a polícia. Tenho certeza de que os policiais o pegaram, o levaram para algum lugar e deram tiros nele", afirma a garota.
Assim como ela, mais duas outras pessoas ouvidas pela Folha confirmaram que seus parentes eram membros da facção criminosa.
"Eu sei que eram do PCC, mas isso não me importa. Não me importa o que eles faziam", fala uma senhora que diz ter 55 anos e afirma ter dado moradia gratuita para pelo menos quatro dos mortos.
"Tratava-os como filhos. Eles não tinham onde ficar. O Boy [apelido de Adriano Wilson da Silva, líder da facção em São Bernardo] morava por aqui. Era namorado daquela moça", aponta para uma adolescente.
A mulher também crê que a polícia planejou as mortes. "Não gosto de policial. Ele só quer saber de matar."
No final da tarde, o portão de entrada do IML ficou repleto de pessoas procurando parentes. Muitos foram à unidade de Diadema, onde estavam outros três corpos de suspeitos.
Mesmo assim, não puderam entrar na sala de necropsia para reconhecer os mortos. Impaciente, um homem de cerca de 30 anos, com uma cicatriz no lábio superior, desabafou.
"Você está procurando alguém aí? Meu irmão está aí. Os policiais grampearam o celular dele. Os caras pegaram pesado. Os companheiros que estão aí [no IML] são todos do partido [PCC]. Quem é teu parente?", indaga à reportagem, e fica quieto na seqüência ao saber que falava com um jornalista.
No final da tarde, familiares puderam identificar os mortos por meio de fotografias de rosto. Um deles, Pedro de Sousa, soube que a filha Ana Paula, 26, era a única mulher morta.
"Ela se envolveu com bandido. Foi o que a escrivã de polícia me disse", afirmou Sousa. Segundo ele, a filha era secretária num curso de inglês e lhe disse anteontem que sairia com uma amiga. "Nunca duvidei." (GP E KT)


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