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Empresa inglesa envia lote de lixo tóxico para o Brasil
Material inclui pilhas e seringas; tonel com brinquedos usados traz mensagem pedindo para entregar às "crianças pobres"
Denúncia partiu de uma das empresas que importaram, ilegalmente, material plástico para reciclagem;
cinco foram multadas
AFONSO BENITES
DA AGÊNCIA FOLHA
A Receita Federal e o Ministério Público Federal do Rio
Grande do Sul investigam o desembarque de 64 contêineres
carregados com cerca de 1.200
toneladas de lixo tóxico, domiciliar e eletrônico nos portos de
Rio Grande (RS) e Santos (SP).
O lote de lixo, que equivale a
7,7% do que é produzido por dia
no município de São Paulo, veio
da Inglaterra e foi enviado irregularmente ao Brasil, segundo
a investigação.
Até ontem, 40 contêineres
estavam retidos em Rio Grande, oito foram parados na estação aduaneira de Caxias do Sul
(RS) e 16 no porto de Santos.
Segundo o auditor Rolf Abel,
chefe substituto da seção de vigilância do controle aduaneiro
da alfândega de Rio Grande,
trata-se de esquema similar ao
usado pela máfia italiana, que
envia lixo para países africanos.
Na documentação entregue
nas alfândegas, consta que a
carga seria de polímero de etileno e de resíduos plásticos,
que deveriam ser usados na indústria de reciclagem.
No entanto, além de sacolas
plásticas, havia papel, pilhas,
seringas, banheiros químicos,
cartelas vazias de remédios, camisinhas, fraldas, tecido e couro, dentre outros. Moscas e aranhas também foram encontradas nos contêineres.
O que chamou a atenção é
que em um dos contêineres havia um tonel com brinquedos
onde estava escrito: "Por favor:
entregue esses brinquedos para
as crianças pobres do Brasil.
Lavar antes de usar".
A carga partiu do porto de
Felixstowe, um dos maiores do
Reino Unido. Antes de chegar
ao Brasil, o navio passou pelo
porto de Antuérpia, na Bélgica.
As investigações apontam
que o lixo foi enviado por uma
exportadora inglesa, que não
teve o nome revelado.
"A denúncia partiu de uma
empresa brasileira que importou produtos para reciclagem
[procedimento considerado legal]. Quando receberam a carga, viram que era lixo doméstico, e não resíduos de plástico,
como eles encomendaram",
disse Abel. As investigações começaram em 12 de junho.
Cinco empresas (quatro com
sede no RS e uma em SP; os nomes não foram revelados) importaram o lixo, apuraram a
Receita e o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis). Cada uma foi multada em
R$ 408 mil. Elas têm de enviar
a carga de volta para a Inglaterra em até dez dias e têm 20 dias
para recorrer da multa.
Segundo o chefe do escritório
do Ibama em Rio Grande, Sandro Klippel, as empresas infringiram a Convenção de Basileia
-que regula o transporte de resíduos perigosos-, e a resolução 23 do Conama (Conselho
Nacional de Meio Ambiente).
Klippel disse que as empresas não tinham autorização do
Ibama para importar polímero
de etileno. "Tudo indica que
elas tentaram enganar as autoridades também da Inglaterra."
Colaborou GRACILIANO ROCHA , da Agência Folha, em Porto Alegre
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