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Promotoria despreza laudo sobre cratera
Documento teria informações falsas; suspeita é que laudo do IC foi feito sob encomenda para beneficiar Consórcio Via Amarela
Laudo afirma que
construtoras acionaram
plano de emergência, mas
promotores consideram
que isso não é verdade
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O laudo do IC (Instituto de
Criminalística) de São Paulo
sobre o acidente na estação do
metrô de Pinheiros, trabalho
de 19 meses de oito peritos, não
teve nem uma linha sequer usada pela Promotoria na denúncia à Justiça contra os supostos
responsáveis pelo acidente que
matou sete pessoas em 2007.
Motivo: dúvidas sobre a qualidade e veracidade de informações prestadas pelos peritos.
Os laudos da Polícia Científica são considerados, em tese, os
documentos mais importantes
de uma investigação. Agora, esse documento deve ser a base
de defesa dos acusados, principalmente da cúpula do Consórcio Via Amarela e do Metrô.
Segundo promotores e peritos do IC ouvidos pela Folha,
que falaram sob a condição de
anonimato, o laudo foi desprezado porque parece ter sido
produzido sob encomenda para os investigados. Exemplos
disso são duas informações
-consideradas falsas por eles-
que amenizam a situação dos
diretores do consórcio em relação às sete mortes.
Procurados, os peritos do IC
responsáveis pelo laudo não
quiseram falar com a Folha.
Uma dessas informações sob
suspeita é sobre o acionamento
de um plano de emergência por
parte do consórcio Via Amarela
e o início da retirada das famílias vizinhas ao canteiro de
obras. "Teria sido iniciada a
evacuação dos imóveis próximos ou nas adjacências do poço", diz trecho do documento.
À época, nem a Defesa Civil
nem o consórcio disseram ter
sido iniciada a retirada das famílias. "É como a queda de um
avião. Não dá tempo de fazer
nada", disse o engenheiro Carlos Maffei, consultor do consórcio, após o acidente.
Nos meses após a tragédia, a
Defensoria Pública manteve
contato com 145 vizinhos do
acidente e nenhum deles contou ter recebido ordem para esvaziar seus imóveis no tal plano de evacuação, afirma a defensora Renata Tibyriça.
Na denúncia à Justiça, a Promotoria sustenta que não existia um plano adequado (havia
só para funcionários) e, por isso, o número de vítimas chegou
a sete. Seis dos mortos estavam
na rua Capri, vizinha à obra.
Na Justiça, cinco dos 13 réus
são acusados de negligência
justamente pela inexistência
de tais medidas de emergência,
entre eles Fabio Gandolfo (então diretor contratado pelo
Consórcio Via Amarela) e Marco Buoncompagno (então gerente do Metrô).
Além dessa versão questionável sobre a evacuação dos
imóveis, o laudo do IC tem ainda outra informação supostamente falsa: a de que o motorista Francisco Sabino Torres,
47, morreu na cratera de Pinheiros porque "teria retornado ao interior do poço" da obra.
Segundo relato do também
motorista José Arimatéia da
Silva, 52, em depoimento ao
Ministério Público e em entrevista à Folha, Torres estava na
superfície, ao lado do caminhão, quando tudo ruiu.
"Ele estava uns cinco metros
na minha frente", disse Silva.
Oficialmente, o promotor
Arnaldo Hossepian Júnior diz
não ter suspeitas da honestidade dos peritos e que não utilizou o documento porque considerou que faltou capacidade
ao IC para a investigação.
"Na minha compreensão ficou muito claro que, embora
eles [peritos do IC] tenham
procurado desenvolver um trabalho, eles não tinham a expertise necessária para elaborar o
laudo. Por isso, o laudo é cheio
de contradições", diz.
Para fundamentar sua denúncia, o promotor utilizou como principal sustentação um
relatório produzido pelo IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas). O relatório do IPT
tem, porém, sua isenção questionada porque foi pago pelo
Metrô, também investigado.
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