São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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Promotoria despreza laudo sobre cratera

Documento teria informações falsas; suspeita é que laudo do IC foi feito sob encomenda para beneficiar Consórcio Via Amarela

Laudo afirma que construtoras acionaram plano de emergência, mas promotores consideram que isso não é verdade

ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O laudo do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo sobre o acidente na estação do metrô de Pinheiros, trabalho de 19 meses de oito peritos, não teve nem uma linha sequer usada pela Promotoria na denúncia à Justiça contra os supostos responsáveis pelo acidente que matou sete pessoas em 2007.
Motivo: dúvidas sobre a qualidade e veracidade de informações prestadas pelos peritos.
Os laudos da Polícia Científica são considerados, em tese, os documentos mais importantes de uma investigação. Agora, esse documento deve ser a base de defesa dos acusados, principalmente da cúpula do Consórcio Via Amarela e do Metrô.
Segundo promotores e peritos do IC ouvidos pela Folha, que falaram sob a condição de anonimato, o laudo foi desprezado porque parece ter sido produzido sob encomenda para os investigados. Exemplos disso são duas informações -consideradas falsas por eles- que amenizam a situação dos diretores do consórcio em relação às sete mortes.
Procurados, os peritos do IC responsáveis pelo laudo não quiseram falar com a Folha.
Uma dessas informações sob suspeita é sobre o acionamento de um plano de emergência por parte do consórcio Via Amarela e o início da retirada das famílias vizinhas ao canteiro de obras. "Teria sido iniciada a evacuação dos imóveis próximos ou nas adjacências do poço", diz trecho do documento.
À época, nem a Defesa Civil nem o consórcio disseram ter sido iniciada a retirada das famílias. "É como a queda de um avião. Não dá tempo de fazer nada", disse o engenheiro Carlos Maffei, consultor do consórcio, após o acidente.
Nos meses após a tragédia, a Defensoria Pública manteve contato com 145 vizinhos do acidente e nenhum deles contou ter recebido ordem para esvaziar seus imóveis no tal plano de evacuação, afirma a defensora Renata Tibyriça.
Na denúncia à Justiça, a Promotoria sustenta que não existia um plano adequado (havia só para funcionários) e, por isso, o número de vítimas chegou a sete. Seis dos mortos estavam na rua Capri, vizinha à obra.
Na Justiça, cinco dos 13 réus são acusados de negligência justamente pela inexistência de tais medidas de emergência, entre eles Fabio Gandolfo (então diretor contratado pelo Consórcio Via Amarela) e Marco Buoncompagno (então gerente do Metrô).
Além dessa versão questionável sobre a evacuação dos imóveis, o laudo do IC tem ainda outra informação supostamente falsa: a de que o motorista Francisco Sabino Torres, 47, morreu na cratera de Pinheiros porque "teria retornado ao interior do poço" da obra.
Segundo relato do também motorista José Arimatéia da Silva, 52, em depoimento ao Ministério Público e em entrevista à Folha, Torres estava na superfície, ao lado do caminhão, quando tudo ruiu.
"Ele estava uns cinco metros na minha frente", disse Silva.
Oficialmente, o promotor Arnaldo Hossepian Júnior diz não ter suspeitas da honestidade dos peritos e que não utilizou o documento porque considerou que faltou capacidade ao IC para a investigação.
"Na minha compreensão ficou muito claro que, embora eles [peritos do IC] tenham procurado desenvolver um trabalho, eles não tinham a expertise necessária para elaborar o laudo. Por isso, o laudo é cheio de contradições", diz.
Para fundamentar sua denúncia, o promotor utilizou como principal sustentação um relatório produzido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). O relatório do IPT tem, porém, sua isenção questionada porque foi pago pelo Metrô, também investigado.


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