São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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SAÚDE

Funasa afirma que 21 veículos, todos novos, estão em galpão de SP à espera de ser deslocados para outras cidades

Carros da dengue estão há 6 meses parados

DAGUITO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Vinte e um carros que deveriam ser usados no combate à dengue estão parados há cerca de seis meses em terreno do Comando Militar do Sudeste, na rua Abílio Soares, Paraíso (zona sul de São Paulo). A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) afirma que os veículos são de sua "reserva estratégica", à espera para serem deslocados a outras cidades das regiões Sudeste e Sul do país.
Segundo o diretor de administração da Funasa, Celso Tadeu Silveira, 47, os automóveis ainda não foram utilizados porque não houve necessidade. "Não ocorreu nenhuma situação emergencial que justificasse o envio."
Os carros - 15 Fiat Strada e seis camionetes Ford Ranger- têm adesivos de "Combate à dengue" e inscrições do Ministério da Saúde e da Funasa. Todos são novos, estão com placas brancas federais e nunca foram usados.
Eles custaram aos cofres públicos federais R$ 437,7 mil, mais os gastos com gasolina e manutenção. Na quarta-feira, o Ministério da Saúde anunciou que está ampliando em 35,2% a previsão de investimentos no combate à doença neste ano. A previsão inicial, de R$ 765 milhões, passará a cerca de R$ 1 bilhão em 2002.
O número de casos de dengue registrados no país pelo Ministério da Saúde de janeiro a julho é o maior nos últimos 16 anos. No Estado de São Paulo, foram 34.507 casos autóctones -quando a pessoa contrai a doença no próprio Estado. No município, há registro de 2.433 pessoas contaminadas pelo Aedes aegypti. Desses casos, 338 são autóctones.
O diretor Tadeu Silveira afirma que qualquer secretaria de saúde estadual ou municipal pode solicitar veículos da frota estacionada, desde que haja uma situação emergencial. Mas as secretarias estadual e municipal de São Paulo, por exemplo, afirmam não terem sido informadas que os carros estavam à disposição.
Luiz Jacintho Silva, 52, superintendente da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), da Secretaria Estadual da Saúde, diz que a epidemia está controlada no Estado e que a quantidade de carros disponíveis para o combate à doença são suficientes. Mas, diz ele, os 21 carros parados poderiam renovar a frota atual.
A superintendência tem atualmente 436 carros nas dez regionais que atendem o Estado. Os mais novos foram comprados em convênio com a Funasa: 104 em 1998 e 21 em 2000, representando cerca de 28,7% da frota. Mas do total de carros, 43,3% foram fabricados nos anos 80.

Escondidos
Os 21 carros da reserva estratégica estão quase escondidos entre um galpão utilizado como garagem pelo Exército e o muro da rua Tutóia. O mato sem corte, os outdoors e os muros impedem a visão de quem caminha pela rua. Somente os moradores dos edifícios da região acompanham a "estadia" dos automóveis.
O zelador Raimundo Francisco de Lima, 42, afirma que os veículos nunca foram retirados do local. "Eles só mudaram de posição, mas não saíram daí".
Lima disse ter pensado que eram carros roubados apreendidos pela polícia, mas estranhou todos serem brancos e praticamente iguais.
Marcelo de Oliveira, 30, que trabalha na construção de um edifício na rua Tutóia há um ano e cinco meses, calcula que os carros apareceram estacionados no início do ano. "Foi na época da epidemia no Rio", lembra.



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