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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO
Mecânico fez última vistoria em 15 minutos
Técnico que fez a última inspeção no Airbus da TAM não identificou problemas, a não ser o fato de um reversor estar inoperante
Com 12 anos de experiência no ramo, profissional se
exime de culpa no acidente: "Meu trabalho tinha sido feito de forma correta"
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A última inspeção no Airbus-A320 da TAM no aeroporto
Salgado Filho, em Porto Alegre
(RS), durou 15 minutos. O único mecânico responsável por
vistoriá-lo verificou mais de
seis áreas contendo cerca de 80
itens -esses e os 20 restantes
foram analisados pelo computador da aeronave. Segundo especialistas, uma inspeção dura
de 15 a 40 minutos.
Localizado pela Folha, ele
aceitou falar, por telefone, sob
a condição de que seu nome
não fosse publicado. A conversa foi gravada.
Com 12 anos de experiência
em manutenção de aviões, o
mecânico de 36 anos não identificou nenhum problema nas
asas, no trem de pouso, nos
freios, no motor, nos pneus
nem qualquer vazamento -exceto o fato de o reversor direito
estar inoperante, o que, segundo o fabricante, não compromete a decolagem ou o pouso.
Também não ouviu queixas
dos pilotos. Eles conversaram
sobre combustível -10 mil litros de querosene foram colocados no tanque.
A autorização para liberação
da aeronave é assinada pelo co-piloto Kleyber Aguiar Lima, 54,
e pelo mecânico -o documento foi obtido pela reportagem.
O mecânico ainda se despediu do comandante Henrique
Stephanini Di Sacco, 52, que
lhe disse: "Até logo. Boa noite!".
Piloto e tripulação, a quem
ele já conhecia, estavam preocupados com o atraso. O vôo JJ
3054 deveria ter partido às
16h45, segundo o mecânico,
mas só decolou às 17h16 do dia
17, uma terça-feira com chuva
em Congonhas, aeroporto de
São Paulo, destino do Airbus.
"Todos choramos"
Casado há 11 anos, o mecânico, que gosta de montar maquetes de aviões, terminou seu
turno às 18h, pegou o carro e foi
buscar os dois filhos -uma menina de 5 anos e um garoto de
7- que participavam de uma
festa para os avós na escola.
Duas horas e 44 minutos
após ter visto o jato partir, o homem que já perdera dois amigos pilotos em acidentes aéreos
recebeu o telefonema de um
colega mecânico.
O amigo perguntou se ele dirigia e sugeriu que estacionasse
o carro. Então, disse: "A aeronave que você inspecionou caiu
em cima de um posto de gasolina em São Paulo e morreu todo
mundo". O mecânico foi à casa
da mãe. Viu o noticiário pela
TV. Ela estava desesperada na
sala. Ali mesmo, ele a abraçou
com os filhos e a mulher.
"Chorei. Todos choramos",
contou. "Entrei em choque."
O profissional está há um ano
e meio na TAM e recebe R$
2.047 de salário. Contou ter sido afastado por tempo indeterminado pela empresa. "Atualmente não tenho condições
[psicológicas] de voltar ao trabalho." Afirmou ter acompanhamento psicológico e tomar
calmantes. A TAM disse que todos os funcionários do dia da
inspeção no Airbus trabalham.
O mecânico se exime de qualquer suposta culpa no acidente.
"Meu trabalho tinha sido feito
de forma correta", disse ele,
que tirou brevê de piloto em
1996 e já foi engenheiro de vôo
da Varig Rio Sul. "Já conjeturei
umas 300 possibilidades. Para
mim, foi aquaplanagem."
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