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Concepção pirotécnica do hotel reflete personalidade do dono
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Inconformado com o embargo pela prefeitura do hotel de
luxo que constrói a 800 metros
do aeroporto de Congonhas, o
empresário Oscar Maroni, dono de uma das mais tradicionais casas de garotas de programa de São Paulo, o Bahamas,
desabafa: "Me sinto em uma
festa onde todos estão vestidos
de pênis, e eu, de vagina".
Espécie de usina de petardos
de efeito, Maroni fala sem parar, dá ordens peremptórias a
quem está em volta e deixa
pouco espaço para perguntas
em uma entrevista.
"O [Gilberto] Kassab está se
exibindo que nem um papagaio
surdo. O [José] Serra é feio,
mas pelo menos tinha responsabilidade na prefeitura", diz
ele, em mais uma de suas amalucadas declarações. Provavelmente acostumados com o ritmo copioso do chefe, nem a secretária nem o filho de Maroni,
que estão por perto, parecem
ouvir o que ele diz.
O Oscar's Hotel é a cara do
dono. Para entender melhor
sua pirotécnica concepção, é
preciso conhecer a personalidade de Oscar: aos 51, 1,90m de
altura, 100kg, cabeça raspada,
ele foi casado por 27 anos, tem
quatro filhos, e, afirma, transou
com 1.500 mulheres.
Quem conversa com Maroni
tem a impressão de que os seres
humanos ao redor são mera
contingência, uma coletividade
de moças peladas desprovidas
de significado individual. Enquanto caminha nas dependências do Bahamas, ele aponta, sorri, pisca e joga beijinhos
que não são para ninguém especificamente e para todas ao
mesmo tempo.
Esportista praticante de boxe e musculação, Maroni é seguido por uma microcadela da
raça maltês chamada Docinho:
"Mas põe aí que eu tenho um
rottweiller de 65kg, para não
pensarem que eu sou veado".
Em suas próprias palavras,
Oscar Maroni não é apenas um
personagem, mas quatro: o dono do Bahamas; o pecuarista
criador de gado nelore em Araçatuba; o proprietário do Oscar's Hotel; e o promotor de
eventos de luta da empresa
Showfight: "Sou o don Oscar",
diz, numa alusão ao americano
Don King, megaempresário do
boxe e de Mike Tyson.
El Capo
Agora que se conhece a riqueza do universo particular de
OM, é mais fácil entender a pujança do Oscar's Hotel: com
17.600 m2 de área útil, 11 andares, 223 apartamentos, ainda
assim não é fácil entender como coube lá dentro todo o produto da criatividade transbordante de seu proprietário.
Os highlights são um aquário
de 300 mil litros de água, "réplica do pantanal inundado"; o
restaurante "El Capo" (um dos
quatro), italiano, cujo nome é
uma homenagem ao próprio
Maroni e também "uma referência à Máfia italiana"; um salão de música com luzes que se
acendem e apagam no ritmo do
piano tocado ao vivo.
"Prefiro ser um novo rico do
que um eterno pobre", diz.
"Masculino"
Maroni reitera que o Oscar's
é um hotel para executivos.
Quando fala do centro estético,
por exemplo, ele acrescenta o
adjetivo "masculino".
Como o Bahamas também é
frequentado por executivos, e
está ali ao lado, pode-se inferir
que vai funcionar como um
motel vertical de luxo.
"Não tem nada a ver um com
o outro. Construí o hotel aqui
porque sou dono do quarteirão
inteiro", afirma.
Do lado de fora do Oscar's,
enquanto posa para a foto com
Docinho nos braços, ao lado
dos tapumes com avisos de
"Lacrado", ele diz que a inauguração vai ser em quatro meses
-como já tinha anunciado antes do embargo.
E o lacre? "Ah, isso a gente tira em três dias", garante.
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