São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Concepção pirotécnica do hotel reflete personalidade do dono

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Inconformado com o embargo pela prefeitura do hotel de luxo que constrói a 800 metros do aeroporto de Congonhas, o empresário Oscar Maroni, dono de uma das mais tradicionais casas de garotas de programa de São Paulo, o Bahamas, desabafa: "Me sinto em uma festa onde todos estão vestidos de pênis, e eu, de vagina".
Espécie de usina de petardos de efeito, Maroni fala sem parar, dá ordens peremptórias a quem está em volta e deixa pouco espaço para perguntas em uma entrevista.
"O [Gilberto] Kassab está se exibindo que nem um papagaio surdo. O [José] Serra é feio, mas pelo menos tinha responsabilidade na prefeitura", diz ele, em mais uma de suas amalucadas declarações. Provavelmente acostumados com o ritmo copioso do chefe, nem a secretária nem o filho de Maroni, que estão por perto, parecem ouvir o que ele diz.
O Oscar's Hotel é a cara do dono. Para entender melhor sua pirotécnica concepção, é preciso conhecer a personalidade de Oscar: aos 51, 1,90m de altura, 100kg, cabeça raspada, ele foi casado por 27 anos, tem quatro filhos, e, afirma, transou com 1.500 mulheres.
Quem conversa com Maroni tem a impressão de que os seres humanos ao redor são mera contingência, uma coletividade de moças peladas desprovidas de significado individual. Enquanto caminha nas dependências do Bahamas, ele aponta, sorri, pisca e joga beijinhos que não são para ninguém especificamente e para todas ao mesmo tempo.
Esportista praticante de boxe e musculação, Maroni é seguido por uma microcadela da raça maltês chamada Docinho: "Mas põe aí que eu tenho um rottweiller de 65kg, para não pensarem que eu sou veado".
Em suas próprias palavras, Oscar Maroni não é apenas um personagem, mas quatro: o dono do Bahamas; o pecuarista criador de gado nelore em Araçatuba; o proprietário do Oscar's Hotel; e o promotor de eventos de luta da empresa Showfight: "Sou o don Oscar", diz, numa alusão ao americano Don King, megaempresário do boxe e de Mike Tyson.

El Capo
Agora que se conhece a riqueza do universo particular de OM, é mais fácil entender a pujança do Oscar's Hotel: com 17.600 m2 de área útil, 11 andares, 223 apartamentos, ainda assim não é fácil entender como coube lá dentro todo o produto da criatividade transbordante de seu proprietário.
Os highlights são um aquário de 300 mil litros de água, "réplica do pantanal inundado"; o restaurante "El Capo" (um dos quatro), italiano, cujo nome é uma homenagem ao próprio Maroni e também "uma referência à Máfia italiana"; um salão de música com luzes que se acendem e apagam no ritmo do piano tocado ao vivo.
"Prefiro ser um novo rico do que um eterno pobre", diz.

"Masculino"
Maroni reitera que o Oscar's é um hotel para executivos. Quando fala do centro estético, por exemplo, ele acrescenta o adjetivo "masculino".
Como o Bahamas também é frequentado por executivos, e está ali ao lado, pode-se inferir que vai funcionar como um motel vertical de luxo.
"Não tem nada a ver um com o outro. Construí o hotel aqui porque sou dono do quarteirão inteiro", afirma.
Do lado de fora do Oscar's, enquanto posa para a foto com Docinho nos braços, ao lado dos tapumes com avisos de "Lacrado", ele diz que a inauguração vai ser em quatro meses -como já tinha anunciado antes do embargo.
E o lacre? "Ah, isso a gente tira em três dias", garante.


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