São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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No Rio, tráfico vende o crack já misturado com a maconha

Droga causa aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos; baixa a temperatura e faz as pupilas aumentarem

Chamada de zirrê, a droga é consumida até nas praias da zona sul carioca. Usuários trocam informações sobre o seu preparo pela internet


FLAVIA WERLANG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma nova droga está sendo vendida no Rio de Janeiro: o zirrê, mistura de maconha com crack, também chamada de mesclado ou craconha.
O nome zirrê vem de uma referência às cabeçadas do ex-jogador de futebol francês Zinedine Zidane e uma derivação da palavra francesa désir (desejo).
A droga avança pelas areias da praia de Ipanema, na zona sul, e ganha comunidades em sites de relacionamento, nas quais os usuários compartilham os modos de preparo. O próprio consumidor pode preparar o zirrê, depois de comprar, separadamente, a maconha e o crack.
O coquetel surgiu para suprir um vazio no mercado. "Em todo tipo de comércio, existe um vácuo a ser explorado. Quando um grande conglomerado de lojas surge, uma velha multimarcas obsoleta é absorvida e, no lugar, surge um novo espaço a ser desbravado. Com as drogas, não é diferente. O zirrê surge no mercado de drogas "entrantes'", afirma o psiquiatra, especialista em dependência química, Jorge Jaber.
O delegado titular da Delegacia da Delegacia de Combate às Drogas, Marcus Vinícius Braga, tem a mesma opinião: "Traficante é criativo para manter a clientela. Eles arranjam sempre uma mistura nova para chamar a atenção".
Por ser uma droga que pode ser preparada pelos próprios usuários, a partir de outras duas já existentes no mercado, a polícia não tem números de apreensão de zirrê. "Eu subia o morro para comprar maconha e escutava as outras pessoas pedindo zirrê. Até que perguntei o que era" conta R. P., 24 anos.
No Orkut, experiências são compartilhadas sem pudor. "Esta comunidade foi criada para aqueles q gostam de fumar um zirrê. Pra quem não sabe o q é, zirrê é uma mistura de boldo (maconha) com crack. É a mais nova onda do Rio ..." diz uma dessas páginas na internet.
Para os especialistas, as chamadas "dependências cruzadas", ou seja, o uso de duas ou mais drogas simultaneamente, são as mais perigosas. "Porque não temos idéia de quantos receptores são estimulados ao mesmo tempo. Uma potencializa o efeito da outra. É o que ocorre com o zirrê", explica o psiquiatra Jairo Werner.
A procura por esta novidade tem uma explicação: "O crack causa mais euforia quando fumado junto com a maconha do que inalado. Ele entra em contato com o sangue rapidamente logo no primeiro minuto", diz.
Entre os sintomas dos usuários estão: aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, baixa a temperatura, aumento da pupila, face avermelhada e diminuição do apetite. "Os pacientes aparecem com quadros de esquizofrenia, paranóicos, com manias de perseguição e medos sem motivo aparente"", alerta Werner.
Ele compara o vício ao aprendizado de uma nova língua. "Quando a pessoa se vicia, cria uma rede de neurônios contínua para dar significado àquela droga. Quando ela pára de usar, a rede continua lá e é estimulada quando existe alguma referência que a estimule novamente, como alguma lembrança que cause sensação de prazer", diz o médico.
A solução, segundo o especialista, é o paciente e o familiar aprenderem uma "nova"" língua para não caírem no mesmo círculo vicioso.


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