São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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VIOLÊNCIA
Sem laudo, polícia investiga estupro

DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Karita Pereira Amâncio tinha todos os traços de uma mulher generosa. Era para a casa dela que as amigas corriam quando brigavam com os pais ou eram expulsas por causa de uma gravidez indesejada. Frequentadora da igreja dos mórmons, tinha um único defeito, segundo a mãe: gostava de forró.
No forró Xique-Xique, um bar no Jardim Tropical (zona sudeste de São Paulo) onde ia dançar todo sábado, Karita não deixou que o segurança colocasse para fora um rapaz que bebera além da conta e importunava as mulheres.
"Eu conheço ele. Deixa que eu levo ele pra casa", teria dito, segundo o segurança Lupércio Tobias da Rosa. Na manhã seguinte, no dia 9 de julho último, o corpo de Karita foi encontrado num terreno baldio do Sacomã. Estava nua, suja de barro e tinha parte da cabeça afundada. Estava com 23 anos, cursava a 7ª série e tinha um filho, Bruno, de 3 anos e meio.

Crime sexual ou vingança?
O Departamento de Homicídios acredita que o caso está bem encaminhado. Para a polícia, Karita teria sido estuprada e depois golpeada na cabeça com um bloco de cimento por um rapaz que morava no mesmo bairro e fugiu.
O estupro é só uma hipótese, porque o laudo do Instituto Médico Legal não foi entregue ainda, quase 50 dias após o crime.
Já há um mandado de prisão contra o suposto assassino, cujo nome é mantido em sigilo pelos investigadores, mas a polícia não conseguiu prendê-lo ainda.
A mãe de Karita, a dona-de-casa Solange Regina Robles Amâncio, 46, acha que a versão policial "está errada". "A polícia tinha tudo para descobrir os autores do assassinato, mas se conformou com uma denúncia." Os próprios familiares do acusado disseram à polícia que ele foi o assassino.
A versão de Solange para o homicídio é ainda mais chocante: "Minha filha foi morta por vingança. Ela brigou com umas amigas e elas prometeram dar o troco. Acho que elas só queriam dar um susto, mas exageraram na dose", diz, aos prantos. A razão da briga, afirma a mãe, é que as amigas não concordavam que Karita desse abrigo a uma amiga grávida.
Solange sustenta sua versão em três indícios:
1. Ela não se esquece dos três riscos finos de unha que viu no braço da filha. "Mulher tem unha comprida e os riscos ficam finos. Homem, não. Como a unha é curta, o risco sai grosso. Havia mulheres na morte da Karita";
2. "Minha filha tinha 1,80m, 90 kg e batia em dois homens, se precisasse." Ou seja, um homem sozinho não conseguiria matá-la;
3. Três colegas de Karita desapareceram após o assassinato.
A mãe diz que já tentou contar isso a delegados do Departamento de Homicídios, mas ninguém quis ouvi-la: "Eles dizem que não vão investigar mais porque têm muito crime para dar conta".
O delegado Luiz Marturano, que investiga o caso, refuta as acusações: "Não é verdade que desprezamos informações. Se há outras pessoas envolvidas, vamos descobrir. O inquérito ainda não foi concluído".
Solange já está calejada por tragédias. Quando Karita tinha 6 anos, a casa em que viviam em Santos (SP) desabou e uma panela com óleo fervendo caiu no rosto da menina. Durante quatro anos, ela teve de usar máscara -a primeira delas foi dada por Pelé.
Outra tragédia ocorreu há 15 anos. Seu marido, motorista de ônibus, foi morto ao defender um cobrador. Agora, ela quer justiça: "Não foi crime sexual, foi vingança. E há assassinos da minha filha soltos por aí". (MCC)




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