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VIOLÊNCIA
Sem laudo, polícia investiga estupro
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante Karita Pereira
Amâncio tinha todos os traços de
uma mulher generosa. Era para a
casa dela que as amigas corriam
quando brigavam com os pais ou
eram expulsas por causa de uma
gravidez indesejada. Frequentadora da igreja dos mórmons, tinha um único defeito, segundo a
mãe: gostava de forró.
No forró Xique-Xique, um bar
no Jardim Tropical (zona sudeste
de São Paulo) onde ia dançar todo
sábado, Karita não deixou que o
segurança colocasse para fora um
rapaz que bebera além da conta e
importunava as mulheres.
"Eu conheço ele. Deixa que eu
levo ele pra casa", teria dito, segundo o segurança Lupércio Tobias da Rosa. Na manhã seguinte,
no dia 9 de julho último, o corpo
de Karita foi encontrado num terreno baldio do Sacomã. Estava
nua, suja de barro e tinha parte da
cabeça afundada. Estava com 23
anos, cursava a 7ª série e tinha um
filho, Bruno, de 3 anos e meio.
Crime sexual ou vingança?
O Departamento de Homicídios
acredita que o caso está bem encaminhado. Para a polícia, Karita teria sido estuprada e depois golpeada na cabeça com um bloco de
cimento por um rapaz que morava no mesmo bairro e fugiu.
O estupro é só uma hipótese,
porque o laudo do Instituto Médico Legal não foi entregue ainda,
quase 50 dias após o crime.
Já há um mandado de prisão
contra o suposto assassino, cujo
nome é mantido em sigilo pelos
investigadores, mas a polícia não
conseguiu prendê-lo ainda.
A mãe de Karita, a dona-de-casa
Solange Regina Robles Amâncio,
46, acha que a versão policial "está
errada". "A polícia tinha tudo para descobrir os autores do assassinato, mas se conformou com uma
denúncia." Os próprios familiares
do acusado disseram à polícia que
ele foi o assassino.
A versão de Solange para o homicídio é ainda mais chocante:
"Minha filha foi morta por vingança. Ela brigou com umas amigas e elas prometeram dar o troco.
Acho que elas só queriam dar um
susto, mas exageraram na dose",
diz, aos prantos. A razão da briga,
afirma a mãe, é que as amigas não
concordavam que Karita desse
abrigo a uma amiga grávida.
Solange sustenta sua versão em
três indícios:
1. Ela não se esquece dos três riscos finos de unha que viu no braço da filha. "Mulher tem unha
comprida e os riscos ficam finos.
Homem, não. Como a unha é curta, o risco sai grosso. Havia mulheres na morte da Karita";
2. "Minha filha tinha 1,80m, 90
kg e batia em dois homens, se precisasse." Ou seja, um homem sozinho não conseguiria matá-la;
3. Três colegas de Karita desapareceram após o assassinato.
A mãe diz que já tentou contar
isso a delegados do Departamento de Homicídios, mas ninguém
quis ouvi-la: "Eles dizem que não
vão investigar mais porque têm
muito crime para dar conta".
O delegado Luiz Marturano,
que investiga o caso, refuta as acusações: "Não é verdade que desprezamos informações. Se há outras pessoas envolvidas, vamos
descobrir. O inquérito ainda não
foi concluído".
Solange já está calejada por tragédias. Quando Karita tinha 6
anos, a casa em que viviam em
Santos (SP) desabou e uma panela com óleo fervendo caiu no rosto da menina. Durante quatro
anos, ela teve de usar máscara -a
primeira delas foi dada por Pelé.
Outra tragédia ocorreu há 15
anos. Seu marido, motorista de
ônibus, foi morto ao defender um
cobrador. Agora, ela quer justiça:
"Não foi crime sexual, foi vingança. E há assassinos da minha filha
soltos por aí".
(MCC)
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