São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2001

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CONSUMO

ABASTECIMENTO

Problema, que é reconhecido por empresas de saneamento, ocorre sobretudo em locais onde há racionamento

Ar em tubulação faz conta de água disparar

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Sua conta de água subiu, sem mais nem menos, de um mês para o outro? Você pode estar pagando por ar em vez de água. Isso acontece quando falta água e os canos são invadidos pelo ar, fazendo o hidrômetro rodar e contabilizar esse ar como se água fosse.
A interrupção no abastecimento, devido ao racionamento ou para executar serviços de manutenção na rede, permite a entrada de ar pelos canos. Nas regiões mais altas e nas mais afastadas dos reservatórios, quando a demanda é muito alta, falta água e entra ar. O ar pode entrar também quando há bombeamento de água sob pressão nas redes.
Uma vez normalizado o fornecimento, a água empurra o ar que tomou conta da tubulação para os pontos de saída. Ao chegar ao hidrômetro, esse ar faz o ponteiro girar para a frente, registrando um falso consumo. O problema não é novo nem se restringe a São Paulo. Porém as empresas de saneamento resistiam em admiti-lo. Hoje já o reconhecem, mas ainda não o solucionaram.
O Ministério Público do Estado de São Paulo tem em andamento uma investigação, iniciada em 1994, envolvendo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pelo abastecimento em mais da metade dos municípios paulistas.
"Nós estamos perto de fechar um termo de compromisso em que a companhia se obrigará a instalar equipamentos nessas redes para eliminar o ar dos canos", diz Edgard Moreira da Silva, promotor de Justiça do Consumidor.
Maria Lúcia Tiballi, superintendente de marketing e coordenadora de consumo domiciliar da Sabesp, admite que o ar nos canos pode alterar a conta, mas diz que é pequeno o número de consumidores afetados.
"O consumidor tem de estar atento. Saiu da média de consumo sem razão, peça à companhia para analisar. Se não for dada explicação satisfatória, deve procurar os órgãos de defesa do consumidor", diz Sezefredo Paz, consultor técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
A superintendente da Sabesp diz que, na capital, a intermitência provocada pelo aumento da demanda ocorre na periferia e afeta basicamente casas "nos extremos das zonas leste, sul e oeste".
Durante o racionamento, o consumidor pode se prevenir adotando medidas simples. Conhecendo os dias e os horários anunciados para o corte da água, deve deixar a caixa encher e fechar o registro antes que a água acabe. Só deve reabri-lo pelo menos meia hora após a água voltar, evitando que o ar entre para sua casa.
Fátima Lemos, técnica da área de serviços essenciais da Fundação Procon de São Paulo, diz que, em geral, os consumidores não sabem do problema e não reclamam do ar no cano. Mas quando a discrepância de valores entre uma conta e outra é muito grande, depois de tentar negociar o pagamento com a Sabesp, alguns procuram o Procon/SP.
Foi o que fez o comerciante Eun Kookjun, 60. Em maio de 2000, ele viu sua conta saltar de uma média de R$ 55 para R$ 590 sem razão aparente. Em fevereiro deste ano, de R$ 45 para R$ 390. Um técnico da Sabesp concluiu não haver vazamento ou outro motivo para a conta ter aumentado.
"O técnico disse que podia ser a pressão do ar no hidrômetro. Mas a Sabesp recusou-se a baixar o valor cobrado. Só aceitaram devolver depois que registramos reclamação no Procon", diz Jang Ho Jun, 30, filho do comerciante.
O engenheiro Wolfram Henrich, 70, no ano passado, viu seu consumo saltar da média de 19 m3 mensais para 47 m3.
Durante um mês, ele anotou o vai e volta do hidrômetro. Colocou um apito que era acionado quando o ar começava a entrar. Ele ouvia o apito e anotava a marcação do medidor. Quando a água voltava, o apito avisava novamente. Ele tornava a anotar. Descontava as distorções provocadas pelo ar na medição do consumo. A média dava 600 litros por dia, totalizando 18 m3 no mês.



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