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CONSUMO
ABASTECIMENTO
Problema, que é reconhecido por empresas de saneamento, ocorre sobretudo em locais onde há racionamento
Ar em tubulação faz conta de água disparar
EUNICE NUNES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sua conta de água subiu, sem
mais nem menos, de um mês para
o outro? Você pode estar pagando
por ar em vez de água. Isso acontece quando falta água e os canos
são invadidos pelo ar, fazendo o
hidrômetro rodar e contabilizar
esse ar como se água fosse.
A interrupção no abastecimento, devido ao racionamento ou
para executar serviços de manutenção na rede, permite a entrada
de ar pelos canos. Nas regiões
mais altas e nas mais afastadas
dos reservatórios, quando a demanda é muito alta, falta água e
entra ar. O ar pode entrar também quando há bombeamento de
água sob pressão nas redes.
Uma vez normalizado o fornecimento, a água empurra o ar que
tomou conta da tubulação para os
pontos de saída. Ao chegar ao hidrômetro, esse ar faz o ponteiro
girar para a frente, registrando
um falso consumo. O problema
não é novo nem se restringe a São
Paulo. Porém as empresas de saneamento resistiam em admiti-lo.
Hoje já o reconhecem, mas ainda
não o solucionaram.
O Ministério Público do Estado
de São Paulo tem em andamento
uma investigação, iniciada em
1994, envolvendo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo), responsável
pelo abastecimento em mais da
metade dos municípios paulistas.
"Nós estamos perto de fechar
um termo de compromisso em
que a companhia se obrigará a
instalar equipamentos nessas redes para eliminar o ar dos canos",
diz Edgard Moreira da Silva, promotor de Justiça do Consumidor.
Maria Lúcia Tiballi, superintendente de marketing e coordenadora de consumo domiciliar da
Sabesp, admite que o ar nos canos
pode alterar a conta, mas diz que é
pequeno o número de consumidores afetados.
"O consumidor tem de estar
atento. Saiu da média de consumo sem razão, peça à companhia
para analisar. Se não for dada explicação satisfatória, deve procurar os órgãos de defesa do consumidor", diz Sezefredo Paz, consultor técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
A superintendente da Sabesp
diz que, na capital, a intermitência
provocada pelo aumento da demanda ocorre na periferia e afeta
basicamente casas "nos extremos
das zonas leste, sul e oeste".
Durante o racionamento, o consumidor pode se prevenir adotando medidas simples. Conhecendo
os dias e os horários anunciados
para o corte da água, deve deixar a
caixa encher e fechar o registro
antes que a água acabe. Só deve
reabri-lo pelo menos meia hora
após a água voltar, evitando que o
ar entre para sua casa.
Fátima Lemos, técnica da área
de serviços essenciais da Fundação Procon de São Paulo, diz que,
em geral, os consumidores não
sabem do problema e não reclamam do ar no cano. Mas quando
a discrepância de valores entre
uma conta e outra é muito grande, depois de tentar negociar o pagamento com a Sabesp, alguns
procuram o Procon/SP.
Foi o que fez o comerciante Eun
Kookjun, 60. Em maio de 2000,
ele viu sua conta saltar de uma
média de R$ 55 para R$ 590 sem
razão aparente. Em fevereiro deste ano, de R$ 45 para R$ 390. Um
técnico da Sabesp concluiu não
haver vazamento ou outro motivo para a conta ter aumentado.
"O técnico disse que podia ser a
pressão do ar no hidrômetro. Mas
a Sabesp recusou-se a baixar o valor cobrado. Só aceitaram devolver depois que registramos reclamação no Procon", diz Jang Ho
Jun, 30, filho do comerciante.
O engenheiro Wolfram Henrich, 70, no ano passado, viu seu
consumo saltar da média de 19 m3
mensais para 47 m3.
Durante um mês, ele anotou o
vai e volta do hidrômetro. Colocou um apito que era acionado
quando o ar começava a entrar.
Ele ouvia o apito e anotava a marcação do medidor. Quando a
água voltava, o apito avisava novamente. Ele tornava a anotar.
Descontava as distorções provocadas pelo ar na medição do consumo. A média dava 600 litros por
dia, totalizando 18 m3 no mês.
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