São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2001

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SAÚDE

Congresso alerta que muitos procedimentos podem trazer risco a bebê

Médico pede cautela no uso de técnicas de reprodução

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

As técnicas de reprodução assistida devem ser utilizadas como o último recurso no tratamento de um casal infértil. Muitas delas ainda são experimentais e podem oferecer riscos ao futuro bebê.
O alerta foi feito por médicos durante o congresso da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), que terminou anteontem em Campos do Jordão (167 km a noroeste de São Paulo). Anualmente, nascem no Brasil cerca de 1.400 bebês de proveta.
Como não existe uma legislação específica que regulamente a prática no país, os médicos temem que as técnicas estejam sendo banalizadas por algumas clínicas.
Um dos temas mais polêmicos discutidos durante o congresso foi a transferência de citoplasma, técnica utilizada em mulheres acima de 40 anos, cujos óvulos apresentam poucas chances de fertilização. O método consiste em retirar o citoplasma de uma mulher mais jovem e transferi-lo para o óvulo de uma mulher mais velha com o objetivo de "vitaminá-lo".
O risco apresentado pela transferência de citoplasma está na possibilidade de transferir também material genético da doadora. Com isso, essa criança teria informações genéticas do pai, da mãe e da doadora.
Para o médico Roger Abdelmassih, especialista em reprodução e pioneiro no uso da técnica no país, a transferência de citoplasma não traz riscos à saúde do bebê. Ele afirma que cerca de 50 crianças já nasceram por meio dessa técnica em sua clínica, e "todas são absolutamente normais". Em todos esses procedimentos, segundo Abdelmassih, os pais assinaram um termo de compromisso em que são informados sobre a possibilidade de o filho herdar material genético da doadora.
Para a médica Bella Zausner, de Salvador, ainda é muito cedo para afirmar que essa técnica é segura. "Só daqui a duas gerações é que vamos saber se essas crianças não têm sequelas", afirma Bella.
O presidente SBRA, Edson Borges, considera que tanto a transferência de citoplasma quanto outras técnicas usadas nas clínicas de reprodução espalhadas pelo país são experimentais e deveriam ser comprovadas cientificamente antes de serem adotadas como prática clínica.
Ele afirma que a partir do próximo ano todas as clínicas cadastradas na SBRA vão passar por fiscalização. Elas terão de cumprir uma série de requisitos para conseguir uma espécie de "selo de qualidade" da entidade.
Segundo Edson Borges, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, as clínicas que cometerem infrações graves estarão sujeitas a multas e até a interdição pela Vigilância Sanitária.


A jornalista Cláudia Collucci viajou a Campos do Jordão a convite da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida



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