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MASSACRE NO CENTRO
Moradores de rua levaram pancada de arma cilíndrica; resultado não descarta ação de um grupo
Laudo indica que mesma pessoa matou 6
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
As análises feitas nos corpos dos
seis moradores de rua assassinados no centro de São Paulo nas
duas ondas de ataque ocorridas
desde o último dia 19 sugerem
que os golpes fatais foram desferidos por uma única pessoa.
A polícia afirma que a conclusão se baseia no tipo de lesão provocada pela pancada -o que leva
em conta a inclinação do ferimento, por exemplo- e na profundidade do afundamento craniano
causado nas vítimas -o que indica a força do agressor.
O resultado não descarta, no entanto, que o executor dos ataques
seja membro de um grupo e que
tenha comparsas -tese, inclusive, que os investigadores consideram bem mais provável.
Para cinco dos mortos os laudos
do IML (Instituto Médico Legal)
são conclusivos: eles levaram apenas uma pancada. Pelas lesões, só
uma vítima -atacada no primeiro dia- pode, em tese, ter sido
agredida duas vezes, mas isso é
pouco provável. Os ferimentos
causados nos nove sobreviventes
não foram analisados pelo IML.
"Acabamos de receber os legistas e agora sabemos que cada uma
das vítimas recebeu um único e
certeiro golpe fatal", disse no começo da noite de ontem o delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira,
que comanda as investigações. Os
corpos não têm lesões de defesa.
De acordo com Teixeira, o instrumento usado pelo agressor é
contundente -não tem ângulos
retos. Enquadram-se nessa descrição canos de ferro e bastões,
por exemplo. "Diria que a arma
pode ter o formato de uma caneta", exemplificou Teixeira. "O
agressor sabia manusear o instrumento e bateu para matar."
Policiais e outros suspeitos
Os suspeitos que a polícia havia
anunciado ter anteontem já foram descartados pelos investigadores. Um era o dono de um Gol
preto que teria sido visto no local
dos ataques. Interrogado, ele
comprovou que não esteve no
centro nos dias das mortes.
O outro suspeito, conhecido como Alemão, teria dito que ele e
um comparsa planejavam assaltar uma loja da rua Tabatingüera
na madrugada do dia 19, mas que
não puderam fazê-lo porque muitos moradores de rua dormiam
sob a marquise. Irritado, o comparsa de Alemão teria espancado
um deles. No relato, porém, Alemão disse que a vítima foi esfaqueada -o que não aconteceu
com nenhum dos mortos.
A contradição fez a polícia liberar o rapaz, embora o possível
comparsa continue sendo procurado para esclarecer o fato.
O relato feito pelo delegado Teixeira na entrevista coletiva evidencia que, uma semana depois
das primeiras mortes, o caso segue envolto em muito mistério,
inclusive para a Polícia Civil.
"As denúncias já chegam a 60.
Elas citam skinheads, policiais,
guardas-civis etc. Ainda não podemos descartar nada e também
não temos uma hipótese mais
provável", disse o policial.
Segundo ele, as imagens capturadas pelas câmeras de segurança
dos prédios do centro estão sendo
digitalizadas e tratadas. O procedimento já levou à identificação
de algumas placas de veículos que
passaram pela região nas madrugadas de quinta e domingo -inclusive da GCM e da PM-, mas
os dados dos proprietários e possíveis ocupantes ainda estão sendo checados pelos policiais.
Denúncia
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa,
presidida pelo deputado petista
Renato Simões, ouviu ontem, durante reunião para discutir os ataques no centro de São Paulo, denúncia de um morador de rua de
que a polícia estaria coagindo outros moradores de rua a assumir a
autoria das mortes.
A acusação foi feita pelo catador
de papelão Anderson Lopes Miranda, 28. Ele, porém, disse que
viu os moradores sendo levados
pela PM e que ouviu os relatos sobre os supostos depoimentos.
O deputado Renato Simões disse que iria investigar o caso.
A assessoria de comunicação da
Secretaria da Segurança Pública,
por meio de nota, afirma que a investigação está sendo conduzida e
centralizada no DHPP e que "é
mentirosa a suspeita de coação e a
afirmação de que policiais militares estariam conduzindo moradores de rua para prestar depoimento no 1º DP".
Severino Gerônimo de Oliveira,
um dos agredido na última semana e que corria risco de morte,
saiu da UTI. Outras oito pessoas
continuam internadas.
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