São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Quadrilhas falsificam até contrabando

Produtos forjados, como cópias do paraguaio Pramil, chegam a ter menos de 1% do princípio ativo do medicamento original

Até mesmo itens que têm a comercialização proibida no Brasil, como anabolizantes e droga similar ao Viagra, são produzidos por grupos

DA REPORTAGEM LOCAL

Além dos medicamentos oficiais falsificados, o Brasil tem registrado aumento de drogas contrabandeadas adulteradas. São os "tabajaras", no jargão policial, em geral vendidos pela internet. Os mais freqüentes são os anabolizantes, as drogas abortivas (Cytotec) e, de novo, remédios para disfunção erétil, especialmente a cópia falsa do Viagra, o paraguaio Pramil, cuja caixa chega a custar a metade do preço do remédio oficial.
Segundo a Associação Brasileira de Combate à Falsificação, esses estimulantes forjados possuem menos de 1% do princípio ativo do medicamento verdadeiro. No ano passado, a associação recolheu mais de 12 mil cartelas de Pramil.
Em maio deste ano, a polícia de São Paulo desvendou, por meio de escutas telefônicas e investigações na internet, uma quadrilha na capital paulista que comercializava esses produtos. Pelo menos duas pessoas foram detidas e outras três estão foragidas.
Na casa de um dos acusados, havia anabolizantes para uso humano e veterinário -a maioria falsa-, rótulos, frascos e bulas. Os produtos eram misturados e reenvasados.
Anabolizantes são hormônios à base de testosterona. O exagero causa problemas hepáticos, renais e fraqueza, atacando o coração, o fígado e os rins. Em um caso mais grave, pode provocar até câncer.

R$ 1 milhão por ano
Segundo o delegado Antonio Augusto Rodrigues da Silva, um dos acusados recebeu, durante uma quinzena, de 40 a 50 ligações por dia. A estimativa da polícia é que a quadrilha movimentava por ano R$ 1 milhão.
No Brasil, a venda de anabolizantes é autorizada apenas com receita médica. A reposição de testosterona no organismo masculino é indicada para alguns tipos de doenças ou para casos de defasagem hormonal.
Dados da Associação Brasileira de Estudos e Combate ao Doping mostram que, nos últimos oito anos, pelo menos 18 pessoas morreram vítimas de anabolizantes -quatro delas no ano passado. A idade média é de 26 anos. Não se sabe quantas dessas mortes foram causadas por produtos falsos.
Alexandre Pagnani, presidente da Associação e da Confederação Brasileira de Culturismo e Musculação, afirma que todas essas vítimas eram fisiculturistas, praticantes de lutas e de musculação. "É um problema sério, que temos denunciado desde 1997, mas até agora não existe uma ação efetiva para coibir o contrabando desses produtos nas fronteiras, nos portos e nos aeroportos."
Ainda de acordo com ele, a aplicação de anabolizantes de uso animal tem sido grande e as forças policiais e de vigilância sanitária não conseguem conter esse mercado.
(CLÁUDIA COLLUCCI)


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