São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

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PATRIMÔNIO

Idealizador do projeto afirma não querer conhecer local por não ter sido atendido em pedido de retirar parte da marquise

Niemeyer diz que não irá à festa de abertura

DA REPORTAGEM LOCAL

Idealizador do auditório do parque Ibirapuera, o arquiteto Oscar Niemeyer disse que não irá ao evento de inauguração, no dia 6 de outubro, e se recusa até mesmo a conhecer o local.
O arquiteto reclama que não foi atendido seu pedido de fazer um recorte na marquise do parque, que passa em frente ao auditório. Para ele, o corte é necessário para a instalação de uma praça entre a Oca e o novo teatro.
"É de uma burrice fantástica", afirmou o arquiteto, que também projetou a cidade de Brasília. "Um desaforo. Não existe no mundo uma praça com um pedaço de marquise a dividindo em duas", acrescentou.
Na entrada do auditório existe uma escultura pintada de vermelho, chamada Labareda, que é de autoria de Niemeyer.
O arquiteto também não compareceu ao evento de inauguração feito em dezembro do ano passado na gestão Marta Suplicy (PT).
Chateado, Niemeyer afirma que nunca mais irá ao parque se não for recortada a marquise.

"Bico"
O projeto do arquiteto remove da marquise um "bico" -de aproximadamente mil metros quadrados- localizado entre a Oca e o auditório. Segundo ele, esse "bico" deve ser suprimido porque separa as duas obras. Ao todo, a marquise possui cerca de 27 mil metros quadrados.
A mudança requerida pelo arquiteto não foi autorizada pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) porque o parque Ibirapuera é tombado.
De acordo com Andréa de Oliveira Tourinho, assistente técnica do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), o Conpresp não viu razão que justificasse o corte da marquise. "Ela já está incorporada à paisagem do parque e à memória coletiva", afirmou.
O DPH é um órgão de assessoria técnica do Conpresp -ligado à Secretaria Municipal de Cultura.
Niemeyer diz esperar que o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), compreenda o erro e mude a marquise. O arquiteto, no entanto, diz que não fará o pedido diretamente ao prefeito. "Ele [Serra] é inteligente. Vai entender que aquilo ali é uma besteira."
Em ocasiões anteriores, o arquiteto já afirmou que não vê sentido na discussão sobre o corte da marquise por se tratar de uma obra de sua autoria. "Quem projetou a marquise fui eu, posso cortá-la do jeito que eu quiser", disse o arquiteto em junho do ano passado. Niemeyer idealizou o parque Ibirapuera na década de 50, para o aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo.
Procurado pela reportagem para comentar a afirmação do arquiteto, o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, disse, por meio de sua assessoria, que não tinha nada a falar sobre o assunto. Ele estava ontem na coletiva de imprensa que anunciou a inauguração do auditório.

Proposta original
A proposta inicial da marquise era que ela unificasse visualmente cinco edificações previstas. Como o auditório não foi construído na década de 50 por falta de verba, a marquise ficou incompleta. Do "bico" deveriam sair dois braços: um até a Oca e outro até o auditório, conectando ambos.
A nova proposta, que corta a marquise, foi apresentada, em junho do ano passado, pela equipe de Niemeyer à prefeitura.
Mesmo com a polêmica, o arquiteto diz que ficou feliz em saber que o auditório foi construído após tanto tempo e afirma que, por meio de fotos, imagina como ficou a obra. "Eles [o público] vão gostar, o projeto é bom. Foi uma luta, mas enfim está feito."


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