São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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GUERRA SEM TRINCHEIRA

Alvo de disparos do tráfico, diz polícia, se refugiou em colégio no Rio; 3 adultos também foram atingidos

Balas perdidas ferem alunos diante de escola

Fabio Gonçalves/Agência O Dia
Robson da Silva Júnior, ferido na perna durante o tiroteio em frente a escola no Rio, é carregado


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Quatro adolescentes ficaram feridos a tiros em frente a uma escola, no Rio de Janeiro, enquanto aguardavam a abertura do local. Outras três pessoas também foram baleadas na ação, às 7h30 de ontem, que, segundo a polícia, ocorreu porque traficantes de um morro vizinho ao colégio perseguiam morador de outra favela.
Ninguém corre risco de morte. Os jovens feridos, de 11 a 15 anos, têm aula na favela Baixa do Sapateiro, no complexo da Maré (zona norte do Rio de Janeiro).
Empregada doméstica, a mãe de um dos jovens atingidos, que preferiu não se identificar, foi avisada pela patroa. "Ela não me disse a verdade, só que ele tinha machucado a perna. Achei que fosse coisa de moleque. Mas vi que ela estava nervosa e ficou me dizendo: vai ver seu filho, ele machucou a perna. Até que ela me disse a verdade e vim correndo."
Segundo a polícia, traficantes da Baixa do Sapateiro, da facção TCP (Terceiro Comando Puro), atiraram contra Jefferson Oliveira Santos, 22, um dos feridos, que foi reconhecido como morador da Vila dos Pinheiros, dominada pelo grupo ADA (Amigo dos Amigos). Santos estava diante do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Operário Vicente Mariano.
Aos policiais de plantão no Hospital Geral de Bonsucesso (zona norte), onde foi internado, Santos deu duas versões: ia para a casa de uma tia quando foi reconhecido por bandidos e o tiroteio começou após ter a moto roubada.
Baleado no tórax, ele teve alta e foi embora de táxi, sem ser ouvido por policiais civis. Ele não tem antecedentes criminais, mas a polícia investiga possível ligação com o tráfico da Vila dos Pinheiros.
À tarde, a polícia foi até sua casa. Os familiares afirmaram que Santos foi para a casa de parentes na Baixada Fluminense (região metropolitana do Rio de Janeiro).
Apesar dos tiros, o colégio não fechou, mas os pais não permitiram que os filhos fossem à aula.

Garota pisoteada
Santos disse também no hospital que, ao ser alvo dos tiros, correu em direção ao Ciep, onde vários jovens esperavam a aula. Houve correria e pânico. Tamara, 5, que estava em uma praça em frente à escola, caiu, foi pisoteada e teve ferimento no rosto.
Os disparos também atingiram Luciene Ferreira Macedo, 11, ferida na coxa; Milena Alves Moraes, 13, na perna direita; Eduardo Souza de Oliveira, 15, baleado na perna esquerda; Robson da Silva Júnior, 14, atingido na coxa direita; Ana Alice Arcanjo Nascimento, 28, atingida de raspão na perna esquerda; e Duosdete Divino Silva, 47, que levou um tiro na perna direita. O caso mais grave é o da garota de 11 anos, que foi operada.
A polícia recebeu a informação de que haveria um oitavo baleado, mas a suposta vítima não chegou a ser hospitalizada. A dona-de-casa Gelma Gabri Divino, mulher de Duosdete, um dos feridos, afirmou que o marido foi levar a filha à escola quando acabou atingido. "Ele pensou que fosse morrer."


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