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Bala perdida mata mãe e atinge filha de 11 meses no Rio
Criança passou por cirurgia e apresenta quadro de saúde estável; parentes culpam policiais militares pelo disparo
Os policiais, que faziam ronda na favela Kelson's, na Penha (zona norte), acusam traficantes; um cabo e três soldados foram afastados
DA SUCURSAL DO RIO
A dona de casa Ana Cristina
Costa do Nascimento, 24, morreu anteontem à noite, após ser
atingida por uma bala perdida
na entrada da favela Kelson's,
na Penha (zona norte do Rio).
A bala atravessou o tórax da
moça e feriu o braço esquerdo
da filha de 11 meses que ela carregava no colo. A criança passou por uma cirurgia e seu quadro de saúde é estável.
Com a filha Caienny no colo,
Ana Cristina ia com o marido,
Anílton César Matos, 24, a filha
Cauane, 3, e seis primos adolescentes para um ponto de ônibus quando o tiro foi dado. Matos disse que quem atirou foi
um dos quatro PMs que faziam
ronda numa Blazer. A versão
foi sustentada pelos primos.
Matos diz que a culpa pelo
ocorrido é da "incompetência
desses governantes". "Fala
bem, fala na televisão, fala bonito, come bem, forte, gordo,
viaja bastante. E nós, que moramos dentro de uma comunidade, estamos aí vivendo essa
guerra. Hoje foi minha mulher,
quase foi minha filha, quase foi
minha família inteira. Quero
saber quando isso vai acabar e
qual a resposta que eles vão me
dar", disse Matos, repetindo
trecho da letra de "12 de Outubro", interpretada pelo grupo
Racionais MC's.
No carro da PM estavam um
cabo e três soldados. Eles foram
afastados do serviço de rua até
a conclusão da averiguação sumária aberta pela PM.
Na 22ª Delegacia de Polícia,
os policiais disseram que não
dispararam nenhum tiro. Eles
contaram que perseguiam um
motociclista suspeito, que entrou na Kelson's em fuga. Nesse
momento, disseram, traficantes dispararam da favela.
Nos depoimentos, os PMs
disseram que recuaram para
fora da favela, para evitar um
confronto. Na saída, viram que
havia feridos perto de um ponto de ônibus e prestaram socorro, levando mãe e filha ao hospital. A moça chegou morta.
À tarde, a Polícia Civil tentou
reconstituir o crime, mas um
protesto de moradores acabou
em tumulto, reprimido pela
PM com spray de pimenta.
A família da vítima mora em
Vista Alegre (zona norte). Ana
Cristina passara o dia na Kelson's, onde vive sua irmã mais
velha, Diana. Segundo parentes, elas acertaram como seria a
festa de um ano de Caienny.
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