São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Bala perdida mata mãe e atinge filha de 11 meses no Rio

Criança passou por cirurgia e apresenta quadro de saúde estável; parentes culpam policiais militares pelo disparo

Os policiais, que faziam ronda na favela Kelson's, na Penha (zona norte), acusam traficantes; um cabo e três soldados foram afastados

DA SUCURSAL DO RIO

A dona de casa Ana Cristina Costa do Nascimento, 24, morreu anteontem à noite, após ser atingida por uma bala perdida na entrada da favela Kelson's, na Penha (zona norte do Rio).
A bala atravessou o tórax da moça e feriu o braço esquerdo da filha de 11 meses que ela carregava no colo. A criança passou por uma cirurgia e seu quadro de saúde é estável.
Com a filha Caienny no colo, Ana Cristina ia com o marido, Anílton César Matos, 24, a filha Cauane, 3, e seis primos adolescentes para um ponto de ônibus quando o tiro foi dado. Matos disse que quem atirou foi um dos quatro PMs que faziam ronda numa Blazer. A versão foi sustentada pelos primos.
Matos diz que a culpa pelo ocorrido é da "incompetência desses governantes". "Fala bem, fala na televisão, fala bonito, come bem, forte, gordo, viaja bastante. E nós, que moramos dentro de uma comunidade, estamos aí vivendo essa guerra. Hoje foi minha mulher, quase foi minha filha, quase foi minha família inteira. Quero saber quando isso vai acabar e qual a resposta que eles vão me dar", disse Matos, repetindo trecho da letra de "12 de Outubro", interpretada pelo grupo Racionais MC's.
No carro da PM estavam um cabo e três soldados. Eles foram afastados do serviço de rua até a conclusão da averiguação sumária aberta pela PM.
Na 22ª Delegacia de Polícia, os policiais disseram que não dispararam nenhum tiro. Eles contaram que perseguiam um motociclista suspeito, que entrou na Kelson's em fuga. Nesse momento, disseram, traficantes dispararam da favela.
Nos depoimentos, os PMs disseram que recuaram para fora da favela, para evitar um confronto. Na saída, viram que havia feridos perto de um ponto de ônibus e prestaram socorro, levando mãe e filha ao hospital. A moça chegou morta.
À tarde, a Polícia Civil tentou reconstituir o crime, mas um protesto de moradores acabou em tumulto, reprimido pela PM com spray de pimenta.
A família da vítima mora em Vista Alegre (zona norte). Ana Cristina passara o dia na Kelson's, onde vive sua irmã mais velha, Diana. Segundo parentes, elas acertaram como seria a festa de um ano de Caienny.


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