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TRANSPORTE
Autoridades municipais podem ser responsabilizadas por omissão por não retirarem ônibus paralisados no centro
Promotoria quer punição a CET e sindicato
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo deverá responsabilizar o sindicato dos motoristas e
cobradores de ônibus e as autoridades municipais de trânsito pela
manifestação que impediu o trânsito na região central de São Paulo
anteontem e ontem.
Em protesto contra atraso de salários, cerca de 800 motoristas estacionaram até 300 ônibus em importantes ruas da capital paulista.
De acordo com o promotor Sérgio Turra Sobrane, da Promotoria
de Justiça da Cidadania, o fato de
a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) não ter aplicado
multas contra os ônibus estacionados irregularmente pode caracterizar ato de improbidade administrativa das autoridades municipais de trânsito.
"Ao ficar caracterizada a omissão da prefeitura, vamos instaurar
um inquérito civil para verificar
quem deixou de praticar ato de
ofício, que caracteriza improbidade administrativa", diz Sobrane.
Segundo ele, a prefeitura deveria guinchar os ônibus estacionados irregularmente ou determinar a seus funcionários que dirigissem os veículos até uma garagem municipal, de modo a liberar
o trânsito no centro da cidade. Esse trabalho poderia ser feito com
apoio da Polícia Militar.
Já a CET afirma que ações preventivas foram tomadas -com o
acionamento de equipes operacionais- e que agiu dentro do
que lhe era "possível"- justamente por não ter poder de polícia. Alega também que começou a
retirada dos veículos a partir das
13h de ontem, pouco antes da
apreensão de bens feita pela Justiça na Expresso Paulistano.
Eduardo Macabelli, superintendente de engenharia de tráfego da
CET, reconhece que houve prejuízos no trânsito e afirma que a expectativa é de os veículos sejam
retirados até hoje. "Foram feitas
todas as ações possíveis dentro da
nossa competência", afirmou.
A CET não multou os motoristas pelas infrações e fará, segundo
Macabelli, um levantamento do
"custo social" da ação do sindicato e deverá encaminhar o relatório ao próprio Ministério Público.
Para o promotor Nilo Spinola
Salgado Filho, "o direito de manifestação encontra limite no direito de ir e vir dos demais cidadãos". Segundo ele, a prefeitura
deveria evitar a paralisação do
trânsito e, se não conseguisse, deveria remover os ônibus das ruas.
"Qualquer pessoa que pare seu
carro de modo a obstaculizar o
trânsito terá o veículo removido e
pagará uma pesada multa. Por
que isso não acontece com os ônibus?", questiona o promotor.
De acordo com o Ministério Público, duas investigações devem
ser abertas para apurar o caso:
uma pela Promotoria de Justiça
de Habitação e Urbanismo, para
apurar os danos causados à cidade pela manifestação e para cobrar o valor dos responsáveis, e
outra pela Promotoria de Justiça
da Cidadania, para apurar eventual omissão das autoridades municipais de trânsito.
Em 26 de agosto, a Folha informou que o Sindicato dos Despachantes do Estado de São Paulo
foi condenado em última instância pela Justiça a pagar uma multa
de cerca de R$ 230 mil por ter patrocinado manifestação que fechou o trânsito das avenidas Rubem Berta e Pedro Álvares Cabral,
em frente ao Detran (Departamento Estadual de Trânsito).
"A CET tem de cumprir com
sua obrigação que é aplicar as
multas de trânsito", diz Sobrane,
que foi responsável pela ação contra o sindicato dos despachantes.
Segundo ele, pela primeira vez
poderá ficar caracterizada a omissão de administradores públicos,
caso a CET deixe de aplicar as
multas contra os ônibus estacionados irregularmente.
"A administração pública precisa ter uma estratégia mais ofensiva nos casos de manifestações que
paralisam o trânsito. Os sindicatos não podem pôr a cidade de
joelhos", diz Sobrane.
De acordo com especialistas em
direito ouvidos pela Folha, qualquer pessoa prejudicada pela manifestação dos motoristas de ônibus pode pleitear o pagamento de
indenização na Justiça -inclusive em juizados especiais de pequenas causas.
Em princípio, as ações devem
ser movidas contra o sindicato
dos motoristas e cobradores de
ônibus, mas também é possível
processar a prefeitura.
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