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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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SEGURANÇA

Gravações revelam que grupo chegou a interceptar comunicação da Polícia Civil para saber sobre apreensões

Mãe avisou policial sobre carga apreendida

DA REPORTAGEM LOCAL

As interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal em aparelhos de policiais civis de Guarulhos revelaram, de acordo com a denúncia do procurador da República Matheus Baraldi Magnani, o uso de mercadorias desviadas de apreensões policiais.
Em um trecho das conversas, Adriana, mulher do investigador Roberto Raymundo de Andrade, ligou para um familiar e passou uma lista do que "não precisava comprar" -produtos supostamente desviados, como bolachas, achocolatados, sucos, leite condensado e até bebidas energéticas.
Outras conversas indicariam que a suposta apreensão de uma carga de "600 fardos" de arroz gerou um problema inusitado para o grupo -como estocar o produto em suas casas sem a embalagem que revelaria o desvio. Um dos policiais mandou sua mulher colocar tudo em recipientes plásticos, mas ela respondeu que não cabia mais nada.
As gravações também teriam sugerido que parentes dos investigadores interceptaram comunicação da Polícia Civil para dar ao grupo informações privilegiadas sobre apreensões das cargas.
Em 29 de junho último, a mãe de um dos investigadores da Dise, Mário Biágio Masullo, telefonou para lhe contar que haviam "acabado de pegar uma carga no 8º DP [Distrito Policial]" de Guarulhos. Masullo perguntou se ela tinha certeza e recebeu como resposta: "Sim, eu gravei tudo para você. Os caras estão presos e o caminhão também", segundo transcrição das conversas que integra a denúncia na Justiça.
Em contrapartida, em certo momento da investigação da PF os policiais civis aceitam abertamente a hipótese de que seus telefones foram grampeados. No dia 20 de junho, o investigador Cláudio Machado comentou com o colega Roberto Andrade que um dos telefones interceptados foi usado "para falar de Barcelona, vendedor de fruta". A respeito da possibilidade, Andrade desabafou: "Deus salve".
A PF interpretou o nome "Barcelona" como possível indicativo de que os policiais enviavam droga para Europa -segundo a denúncia, "80% da cocaína apreendida no aeroporto de Guarulhos tem como destino a Espanha".
No mesmo dia 20, Masullo telefonou para um policial do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado para saber se a polícia havia grampeado "um dublê nosso", em referência a um celular clonado. Depois, Andrade ligou para outro policial e pediu que não usasse "mais nunca" o celular e avisasse "todo mundo".


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