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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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JUIZ DE FORA

Após desaparecimento de celular, meninos ficaram nus para serem revistados

PM obriga estudantes a tirar a roupa

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Alunos da sétima série do ensino fundamental da escola municipal Quilombo dos Palmares, em Juiz de Fora (255 km de Belo Horizonte), foram obrigados pela Polícia Militar a tirar a roupa dentro da sala de aula por causa do desaparecimento de um celular.
Durante a revista, feita em grupos de quatro, meninos tiveram de baixar calças e cuecas. As meninas foram levadas a outra sala e impelidas a abrir as bolsas na presença da diretora. O celular -de uma aluna- foi achado no banheiro, após a saída da PM.
O episódio ocorreu na manhã do último dia 19. Segundo o comandante do 27º Batalhão da PM da cidade, tenente-coronel José Ricardo Grunewald, após constatar o sumiço do aparelho, a diretora Rosane Eliotério chamou a polícia. Dois policiais foram até a escola, que fica num bairro pobre. Ao todo, cerca de 30 alunos de 12 a 16 anos foram revistados.
Segundo o artigo 18 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), é dever de todos zelar pela dignidade dos jovens, "pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor".
O deputado estadual Biel Rocha (PT) enviou ao secretário de Estado da Defesa Social, Lúcio Urbano, manifestação de repúdio à busca na escola, pedindo punição aos responsáveis e orientação ao efetivo policial. Para ele, a atitude dos envolvidos na operação foi "lamentável" e "preconceituosa".
"Perguntamos se o mesmo procedimento teria sido adotado se se tratasse de alunos da rede particular de ensino", afirmou.
O titular da Gerência de Educação Básica do município, Paulo Roberto Curvelo, informou que foi aberto processo administrativo para apurar responsabilidades da diretora da escola no caso. Ela poderá sofrer punições que vão de advertência simples à perda do cargo. Disse ainda que a prefeitura enviou à PM pedido de esclarecimento sobre a ação policial.
Curvelo e o diretor de Políticas Sociais da prefeitura, Celso Matias, vão hoje à escola pedir desculpas aos alunos e familiares.

Outro lado
O comandante do 27º Batalhão da PM de Juiz de Fora, tenente-coronel José Ricardo Grunewald, disse que a busca foi feita com o consentimento geral. "Pelo que chegou ao meu conhecimento até o momento, o procedimento foi de consenso entre a direção, professores e os próprios alunos."
A Folha tentou falar com a diretora da escola, Rosane Eleutério, durante toda a tarde de ontem, mas não conseguiu localizá-la.


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