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Em loja alogada, saqueadores levam de tudo
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
MOACYR LOPES JUNIOR
ALENCAR IZIDORO
ENVIADOS ESPECIAIS A ITAJAÍ
Nas ruas do bairro de Cidade
Nova, na periferia de Itajaí, um
boato se espalha. Uma nova onda de saques começava. Foi a
vez do Maxxi, loja atacadista da
rede Wal-Mart.
Tomados pela água enlameada, os corredores da loja eram
um rio sujo com lixo a boiar. Lixo é modo de dizer: eram mercadorias que caíram ou eram
jogadas das prateleiras. Com a
água na altura do pescoço, os
saqueadores levavam tudo o
que estava ao alcance das mãos.
Uma mulher grita a um conhecido: "Tu não queres um
chester? Tem um boiando ali".
Uns juntavam chinelos, outros recolhiam bebidas: água,
refrigerantes, cerveja e até
champanhe. ""É para o Réveillon", dizia um deles sem culpa.
Cabos de vassoura eram feitos de suporte para carregar as
"compras" do mês nos ombros.
No interior da loja, numa escuridão em que quase nada se
via, famílias garimpavam os
produtos largados no chão e escalavam as prateleiras.
Do lado de fora, bicicletas,
carroças, carrinhos de mão,
carros velhos e de luxo e até caminhões eram carregados com
os produtos. Um deficiente físico pedalava um triciclo com
uma perna só e, junto com bebidas, carregava uma muleta.
A polícia passava indiferente
àquela multidão de ao menos
5.000 saqueadores. Um policial
com cassetete e revólver na cintura interrompe a entrevista da
reportagem com uma das pessoas e pede: ""Ô amigo, põe o
carrinho para cima do canteiro
que estamos liberando a rua".
Portas fechadas
Quem visitasse ontem os
bairros centrais de Itajaí ainda
poderia se sentir num feriado.
Boa parte do comércio seguia,
pelo terceiro dia seguido, sem
abrir as portas. A interrupção
dos serviços atingia desde pequenos botequins a uma grande rede de lanchonetes.
Os supermercados, muitos
dos quais foram alvos de saques
nos dias anteriores, funcionavam sob a proteção de PMs. E
algumas prateleiras estavam
cada vez mais vazias.
No Mini-Preço, eram três os
PMs destacados na tarde de ontem para ficar diante do supermercado. Na noite anterior,
mais de cem homens e mulheres quebraram as portas de vidro e entraram no estabelecimento para saquear produtos.
Um dos líderes entrou com um
cavalo -para ganhar altura e
quebrar as câmeras de vigilância, segundo explicação do gerente, Claudinei Cunha.
""A prateleira de uísque e cerveja foi a primeira a esvaziar",
contava Cunha. Mas ontem a
gôndola de água mineral também estava no fim.
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