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Com medo de furtos, famílias deixam parente vigiando casa
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU
O medo de saques a casas em
Blumenau faz famílias de vítimas montarem guarda para
proteger os pertences que não
foram levados pela chuva. Com
receio de perder móveis e eletrodomésticos, os desabrigados
se dividem. Nos imóveis, condenados e em áreas de risco, ficam os maridos. No abrigo, em
um clube de tiro esportivo, estão mulheres e crianças.
Ivanir Neves, 45, é uma delas.
"Compramos uma geladeira e
ainda não terminamos de pagar. É o pouco que temos. Meu
marido e meu filho guardam a
casa e eu fico aqui." Ela é interrompida pelo filho Enéas Neves, 9, dizendo "querer ir atrás
do pai", Luis Carlos Luciano,
que toma conta da casa. A mãe
o proíbe de sair. Ele chora.
Tais Silva, 29, com um filho
de nove e outro de 12 anos, faz
relato semelhante. Seu marido,
o pedreiro Leonildo da Silva,
toma conta da casa, com TV,
som e computador. "Conseguimos trazer a televisão."
No clube de tiro, há cerca de
cem pessoas. Lá há água, alimentação e chuveiros. Colchões continuam a chegar.
Uma das saunas se tornou local
de recolhimento de doações.
Em uma sala que serve como
dormitório, famílias improvisam divisórias com cadeiras e
mesas empilhadas. A alternativa é comparada por vítimas à
"construção de uma casa imaginária". "A gente tem de tentar, mesmo com tudo que aconteceu", diz Tais Silva.
Sem banho
"A ordem é tirar a roupa, respirar fundo, entrar debaixo da
água e sair." A explicação sobre
o banho das cerca de cem pessoas de um abrigo em escola é
dada pela voluntária da Defesa
Civil Marlise dos Santos.
Um único chuveiro é usado
num dos quatro abrigos visitados pela Folha -e aquele em
situação mais precária, com racionamento de água. O banho
não ultrapassa cinco minutos.
Para beber, a opção é ferver
água de uma caixa d'água.
Preparando a comida está
Sirley Vargas, 49. Crianças dizem que ela é "heroína". O apelido surgiu em razão da disposição da cozinheira, que, mesmo com uma filha desaparecida, não pára de trabalhar.
"Minha filha saiu de casa no
sábado, um pouco antes de eu
ter que deixar a casa, com água
quase no pescoço. Não tenho
notícias dela." Ao mencionar o
nome da filha Vanessa Vargas,
de 17 anos, ela chora.
Um silêncio impera por segundos. Só é interrompido pelo
som de um apito, que indicava
que a comida seria servida.
No cardápio, pão, arroz, feijão, salada e carne. A chegada
de mais pessoas é a preocupação de todos no abrigo, que fica
em Ponta Aguda.
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