São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Jobim só comunicou militares após decisão

Ministro da Defesa articulou envio de tropas diretamente com o governador Sérgio Cabral

Na Guiana, Lula disse que "tudo o que Cabral pedir, que estiver dentro da lei, pode ficar certo que faremos"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tomou a decisão de enviar tropas, equipamentos e armas militares para o Rio diretamente com o governador Sérgio Cabral e só depois comunicou aos três comandantes militares.
O do Exército, general Enzo Martins Peri, estava numa formatura militar no Rio quando recebeu a ligação do ministro. Embarcou tarde da noite para Brasília e voltou ontem cedo junto com Jobim.
Segundo o ministro, as ações de Exército, Marinha e Aeronáutica ficarão sob o comando do recém-criado Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, chefiado pelo general José Carlos de Nardi, enquanto a ação policial continua comandada pelas autoridades do Estado do Rio.
Questionado sobre a resistência dos militares, sobretudo do Exército, de participar sem assumir o comando geral da operação, Jobim disse que "não há que se fazer discussão sobre comandos, não há nenhuma possibilidade de nenhum tipo de fricção".
Em Georgetown, na Guiana, o presidente Lula falou da cooperação. "Tudo o que Cabral pedir, que estiver dentro da lei, pode ficar certo que faremos para o Rio."
Oficiais ouvidos pela Folha dizem que a operação no Rio cria "novo paradigma" no uso das Forças Armadas na chamada GLO (Garantia da Lei e da Ordem), prevista na lei 97 de 1999.
À Folha Jobim disse que a estratégia segue a "teoria dos subconjuntos": as forças policiais do Rio participam diretamente da operação de assalto aos morros; o Exército é responsável pela retaguarda, na entrada e saída; e a Aeronáutica e a Marinha fornecem helicópteros e blindados, com suas "guarnições" (equipes que os operam).
Os três helicópteros da FAB são para monitoramento da área e para transporte de atiradores de elite do Bope. Os blindados, 15 da Marinha e 5 do Exército, serão usados também para levar as tropas policiais. Não há previsão de que os militares usem armas e atirem, a não ser em defesa própria.
Os 800 homens do Exército, recrutados principalmente entre os que atuaram na operação de paz no Haiti, devem ficar concentrados nos cerca de 40 pontos de entrada e saída da Vila do Cruzeiro e do Complexo do Alemão.
O ministro disse que a missão deles é impedir o envio de armas, munições e até de comida para os narcotraficantes, como também evitar que eles possam fugir depois dos confrontos com a polícia.
Os oficiais e soldados do Exército têm a autorização, inclusive, para fazer prisões, mas devem entregar suspeitos o quanto antes à polícia.
Só na tarde de ontem, Jobim se reuniu no Palácio da Guanabara com Cabral e comandantes militares para discutir detalhes da ação.
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse, em entrevista coletiva conjunta com o general De Nardi e os comandantes regionais das três Forças Armadas, que a operação está sendo bem sucedida.
"O que se demonstrou na Vila Cruzeiro é que, com o equipamento correto, entramos em qualquer lugar a qualquer hora neste Estado."


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