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ANÁLISE
Forças do Estado tentam "limpar, ocupar e construir"
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Os bandidos que se refugiam nas favelas cariocas
não são "guerrilheiros", "terroristas" ou "insurgentes",
nas definições clássicas destes sujeitos. Mas adotam táticas e armas usadas por esses
três tipos de rebeldes, mostrando que a criminalidade
no século 21 age em áreas cinzentas; nada é simplesmente
preto ou branco. Um bandido
que queima um carro usa a
mesma tática de terror de um
insurgente que planta uma
bomba na estrada.
A ação da polícia e das Forças Armadas tem mostrado
compreensão desse estado
de coisas e estão sendo usadas táticas típicas da chamada "guerra de contra-insurgência", algo que estava fora
de moda, mas voltou com
força total por conta das missões no Iraque, Afeganistão e
mesmo no Haiti.
O tema foi resumido por
um dos pioneiros na área, o
coronel francês David Galula, que serviu na guerra da
Argélia. Ele foi uma forte influência para o general americano David Petraeus, que
comandou tropas no Iraque e
agora comanda no Afeganistão, e coordenou a revisão da
doutrina antiguerrilha do
Exército dos EUA.
As palavras de Galula se
aplicam perfeitamente ao
Rio, trocando "guerrilha"
por "bandido": "destruir ou
expelir de uma área o corpo
principal de forças da guerrilha, impedir seu retorno, instalar guarnições para proteger a população, rastrear o
restante da guerrilha -essas
são operações predominantemente militares".
Ao subir o morro, a polícia
faz a primeira parte; quando
instala depois uma Unidade
de Polícia Pacificadora
(UPP), o governo do Estado
faz a segunda parte.
Outro teórico (e prático)
importante, o britânico Sir
Robert Thompson, que combateu comunistas na Malásia, deixa claro quais são as
fases necessárias contra insurgentes (ou bandidos). Ele
criou a expressão "clear and
hold", "limpar e manter".
"A primeira coisa essencial é saturar a área com forças combinadas de policiais
e militares", afirmou Thompson, mas que deixa claro que
o Estado tem que ocupar permanentemente o espaço.
Os objetivos dessa fase de
"manter" o território conquistado é "restaurar a autoridade do governo na área e
estabelecer um firme quadro
de segurança", diz Thompson. E isso nunca termina.
Petraeus já tinha demonstrado conhecer a "cartilha"
no norte do Iraque. Ele compreendeu que seu principal
objetivo não era matar insurgentes, mas sim proteger a
população deles.
Petraeus e colegas adicionaram uma terceira fase depois de "clear and hold":
"build", "construir", algo necessário em um país como o
Afeganistão, com falta de escolas, hospitais etc.
A mesma tática de centrar
o foco na defesa da população, tentando separá-la e
protegê-la dos "caras maus",
foi adotada pelas Forças Armadas brasileiras no Haiti.
É essa experiência que está sendo repassada aos morros cariocas.
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