São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Forças do Estado tentam "limpar, ocupar e construir"

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Os bandidos que se refugiam nas favelas cariocas não são "guerrilheiros", "terroristas" ou "insurgentes", nas definições clássicas destes sujeitos. Mas adotam táticas e armas usadas por esses três tipos de rebeldes, mostrando que a criminalidade no século 21 age em áreas cinzentas; nada é simplesmente preto ou branco. Um bandido que queima um carro usa a mesma tática de terror de um insurgente que planta uma bomba na estrada.
A ação da polícia e das Forças Armadas tem mostrado compreensão desse estado de coisas e estão sendo usadas táticas típicas da chamada "guerra de contra-insurgência", algo que estava fora de moda, mas voltou com força total por conta das missões no Iraque, Afeganistão e mesmo no Haiti.
O tema foi resumido por um dos pioneiros na área, o coronel francês David Galula, que serviu na guerra da Argélia. Ele foi uma forte influência para o general americano David Petraeus, que comandou tropas no Iraque e agora comanda no Afeganistão, e coordenou a revisão da doutrina antiguerrilha do Exército dos EUA.
As palavras de Galula se aplicam perfeitamente ao Rio, trocando "guerrilha" por "bandido": "destruir ou expelir de uma área o corpo principal de forças da guerrilha, impedir seu retorno, instalar guarnições para proteger a população, rastrear o restante da guerrilha -essas são operações predominantemente militares".
Ao subir o morro, a polícia faz a primeira parte; quando instala depois uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o governo do Estado faz a segunda parte.
Outro teórico (e prático) importante, o britânico Sir Robert Thompson, que combateu comunistas na Malásia, deixa claro quais são as fases necessárias contra insurgentes (ou bandidos). Ele criou a expressão "clear and hold", "limpar e manter".
"A primeira coisa essencial é saturar a área com forças combinadas de policiais e militares", afirmou Thompson, mas que deixa claro que o Estado tem que ocupar permanentemente o espaço.
Os objetivos dessa fase de "manter" o território conquistado é "restaurar a autoridade do governo na área e estabelecer um firme quadro de segurança", diz Thompson. E isso nunca termina.
Petraeus já tinha demonstrado conhecer a "cartilha" no norte do Iraque. Ele compreendeu que seu principal objetivo não era matar insurgentes, mas sim proteger a população deles.
Petraeus e colegas adicionaram uma terceira fase depois de "clear and hold": "build", "construir", algo necessário em um país como o Afeganistão, com falta de escolas, hospitais etc.
A mesma tática de centrar o foco na defesa da população, tentando separá-la e protegê-la dos "caras maus", foi adotada pelas Forças Armadas brasileiras no Haiti.
É essa experiência que está sendo repassada aos morros cariocas.


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