São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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ERIVAN JOSÉ JUSTINO, 34

"Não temos nada, mas tem sempre alguém que te faz mal"

Nessa vida eu já fiz de tudo um pouco. Tenho cursos de mecânico, marceneiro e padeiro. Trabalhei na roça e saí de casa aos 32 anos. Morava com minha mãe, em Marimbondo. Vim para Maceió para tentar uma vida melhor.
Não consegui nada de bom até agora e vivo na rua há dois anos. Acho que é porque só estudei até o terceiro ano. Então, pego plástico e latinha para vender. Vasculho o lixo e como as coisas que os outros jogam fora.
Tem dia que eu ganho uns dez contos, tem dia que não ganho nada, nada. Pedir, nem peço porque ninguém dá mesmo. Essa é a vida que eu vivo. É morrer um pouquinho a cada dia.
Tem gente que critica, que xinga quando a gente puxa a carroça e fecha a rua. Mas vou fazer o quê?
Meu trabalho é esse, e a minha casa é a calçada. Não posso ficar escondido dentro de um buraco, entocado. Se tiver medo, vou viver como?
Na rua, a gente não tem amigo. Eu mesmo não me envolvo com ninguém, não busco encrenca.
Nunca fui ameaçado, mas tem gente que faz coisas por aí, e por causa deles os outros acabam pagando.
Para quem mora na rua, a pior hora é sempre à noite.
O sono de quem está na calçada é o sono de morte.
Ninguém da gente tem nenhuma propriedade, mas sempre tem alguém que quer te fazer mal.


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