São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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JOSE GOMES DA SILVA, 57

"Disseram que, se não saísse, iam atacar a área onde estava"

Na minha cabeça, as pessoas estão matando para assaltar o pobre.
Eles vêm para assaltar e acabam matando. É por isso que eu durmo perto de um vigia e da casa de um policial civil, o Davi. Se precisar, é só tocar a cigarra.
Eu não conto nada para os outros moradores de rua. Sabe como é, né? Tenho um dinheirinho guardado.
Tenho duas malas. Numa tem um monte de roupa. Tenho tanta roupa que cria mofo. Eu tenho também um relógio e um radinho. Tenho que tomar cuidado.
Não lhe digo que juntei um salário, mas meio salário eu tenho sim. Vou guardar para quando a alimentação estiver ruim e para botar um pneu na carroça.
Moro na rua há 20 anos. Já trabalhei como servente de pedreiro. Vivia com uma irmã, no Barro Duro, um bairro aqui de Maceió. Mas ela se desagradou de mim e só pensava nos filhos.
Eu dava meu dinheiro a ela, e ela nem aí.
Um dia fui catar ferro-velho e fiquei na rua. O problema era que eu bebia uma cachaça e não juntava dinheiro. Em 2007, peguei uma tuberculose e parei de beber. Me curei com remédio do SUS e comecei a economizar.
Já morei por quatro meses numa árvore. Fiz um barraco lá em cima, bem cobertinho. Mas mandaram eu sair de lá. Disseram que, se eu não saísse, iam atacar a área.


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