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FRANCISCO GOMES DA SILVA, 39
"Eles falam por aí que a culpa é da turma dos terroristas"
Pense num cabra que já teve moto, casa própria e agora
vive na rua. Cortei cana a vida toda e trabalhava com
meus irmãos restaurando fotografias em Palmares, em
Pernambuco. Em junho, o rio
subiu e levou tudo. Sobraram
eu, a mulher e os três filhos.
No começo, fiquei lá para
tentar alguma coisa. Mas a
feira [cesta básica] não chegava na mão. Então, peguei
uma carona e fui embora.
A família foi para a casa da
minha mãe, em Caruaru,
também em Pernambuco.
Logo que cheguei aqui em
Maceió, comprei uma carrocinha para carregar material.
Só que vacilei. Dormi, e,
quando acordei, tinham roubado. Na rua, ninguém tem
amigo. Para mim, amigo
mesmo é a família da pessoa.
Nasci no Cabo de Santo
Agostinho, mas fui morar em
Palmares quando tinha sete
anos. Meu pai foi trabalhar
no engenho, mas mataram
ele lá. Foi de faca. Foi um negócio de catimbó, bruxaria.
Fui vender picolé com dez
anos e depois comecei a cortar cana. Minha ideia agora é
ir para casa. Quero voltar para cortar cana ou para o mundo da fotografia.
As pessoas me conhecem.
Eu ganho o pão, faço uns bicos e vou levando a vida.
Eu penso que, se o cabra
andar na linha, não tem perigo viver na rua.
O pessoal fala por aí que a
culpa é da turma dos terroristas. Eu não posso dizer nada,
porque não conheço.
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