São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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FRANCISCO GOMES DA SILVA, 39

"Eles falam por aí que a culpa é da turma dos terroristas"

Pense num cabra que já teve moto, casa própria e agora vive na rua. Cortei cana a vida toda e trabalhava com meus irmãos restaurando fotografias em Palmares, em Pernambuco. Em junho, o rio subiu e levou tudo. Sobraram eu, a mulher e os três filhos.
No começo, fiquei lá para tentar alguma coisa. Mas a feira [cesta básica] não chegava na mão. Então, peguei uma carona e fui embora.
A família foi para a casa da minha mãe, em Caruaru, também em Pernambuco.
Logo que cheguei aqui em Maceió, comprei uma carrocinha para carregar material. Só que vacilei. Dormi, e, quando acordei, tinham roubado. Na rua, ninguém tem amigo. Para mim, amigo mesmo é a família da pessoa.
Nasci no Cabo de Santo Agostinho, mas fui morar em Palmares quando tinha sete anos. Meu pai foi trabalhar no engenho, mas mataram ele lá. Foi de faca. Foi um negócio de catimbó, bruxaria.
Fui vender picolé com dez anos e depois comecei a cortar cana. Minha ideia agora é ir para casa. Quero voltar para cortar cana ou para o mundo da fotografia.
As pessoas me conhecem. Eu ganho o pão, faço uns bicos e vou levando a vida.
Eu penso que, se o cabra andar na linha, não tem perigo viver na rua.
O pessoal fala por aí que a culpa é da turma dos terroristas. Eu não posso dizer nada, porque não conheço.


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