São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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EDUCAÇÃO

Pesquisa da Universidade Federal da Bahia diz que brancos predominam em carreiras bem avaliadas pelo mercado

Negros fazem cursos de "baixo prestígio"

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Pesquisa concluída ontem pelo departamento de ciências sociais da UFBa (Universidade Federal da Bahia) em cinco universidades públicas do país revela que os negros frequentam cursos considerados de "baixo prestígio social".
Coordenada pela professora Delcele Mascarenhas Queiroz, a pesquisa envolveu 12.278 alunos matriculados em todos os cursos no primeiro semestre de 2000 na UFBa, na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), na UnB (Universidade de Brasília), na UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e na UFPR (Universidade Federal do Paraná).
De acordo com os dados, só 1,9% dos universitários matriculados no curso de medicina da UFBa são negros. Os brancos que cursam medicina são maioria na universidade baiana -65,4%.
Na UFMA, os negros também são minoria no curso de medicina -só 5,9%, contra 55,9% de estudantes brancos. Mesmo com a soma dos pardos (35,3%), os brancos ainda representam mais da metade dos alunos pesquisados.
Bahia e Maranhão são os dois Estados brasileiros que registram a maior concentração de negros e pardos, de acordo com números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pelos dados do instituto, 79,1% da população baiana é composta por negros e pardos. No Maranhão, o percentual é um pouco menor -78,7% dos habitantes são negros e pardos.
No Paraná, a diferença é ainda mais alta. Segundo a pesquisa, 84,9% dos estudantes de medicina matriculados no primeiro semestre da UFPR (Universidade Federal do Paraná) são brancos.
Os pesquisadores não encontraram nenhum negro matriculado no primeiro semestre de medicina dessa universidade. "Encontramos praticamente a mesma proporção de negros em outros cursos concorridos, como odontologia, direito, administração e arquitetura", disse a coordenadora da pesquisa, Delcele Queiroz.
"Os dados mostram que há uma desigualdade racial muito grande dentro de um grupo que já foi selecionado", diz o professor Jocélio Teles dos Santos, do departamento de antropologia da UFBa.
Nas universidades pesquisadas, o número de negros matriculados em cursos de "baixo prestígio social" é bem superior.
Na UFBa, por exemplo, 17,4% dos estudantes matriculados no primeiro semestre de história são negros. Outros 28,3% são pardos.
Já no Maranhão, 11,1% dos universitários matriculados no mesmo curso são negros. Os pardos representam 25%.
"Mesmo com a predominância dos brancos, o percentual de negros matriculados é bem maior, o que comprova a exclusão social", afirmou a professora.

Classificação dos cursos
Para classificar os cursos, Delcele Queiroz encaminhou um questionário para mais de 20 agências baianas que trabalham com recursos humanos.
"Pedi que os diretores das agências fizessem uma pontuação com todos os cursos, levando-se em conta o mercado de trabalho, a remuneração média e as dificuldades do formando para conseguir emprego", disse Delcele Queiroz.
Para Jocélio Teles dos Santos, a pesquisa deve servir de alerta aos políticos. "Os dados são claros. As universidades públicas brasileiras tornaram-se reduto das elites. É preciso investir mais nas escolas públicas para os excluídos sociais terem as mesmas oportunidades dos estudantes que têm condições de frequentar as melhores escolas particulares do país."


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