|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aos 23 anos, vítima de anorexia admitia o risco de morrer
Beatriz morreu pesando 35 quilos; ela havia reconhecido o
perigo ao falar sobre o caso da modelo Ana Carolina Reston
Na adolescência, quando
pesava cerca de cem quilos,
jovem era ofendida pelos
colegas; é a 3ª morte ligada
à doença desde novembro
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAÚ
DO "AGORA"
Acho que vou morrer em breve, mas não tenho medo. Beatriz Cristina Ferraz Lopes Bastos, 23, que morreu na noite de
domingo em Jaú (296 km de
SP) por conta de complicações
decorrentes da anorexia, havia
dito isso a parentes.
Os comentários, segundo a
prima Cristiane Regina Ferraz
Lopes, 29, surgiram após as
mortes, em novembro, da modelo Ana Carolina Reston, 21, e
da universitária Carla Sobrado
Casalle, 21. Segundo Cristiane,
uma outra prima delas, de 24
anos, também sofre com a
doença e passa por tratamento.
Bia, como era chamada e que
morreu com cerca de 35 quilos
para 1,57 m, sofreu, antes de desenvolver a anorexia, com apelidos pejorativos quando era
adolescente e pesava cerca de
cem quilos. "Ela tinha o apelido
de Bia Butijão na sétima série",
disse Valdete Sestari, sua professora na adolescência e também na faculdade de letras, onde se formou em 2004.
De acordo com a prima Cristiane, toda a família tinha conhecimento da doença e a monitorava. "Depois das refeições,
a gente sempre ficava de olho
para ver se ela ia ao banheiro,
para evitar que vomitasse. Todos tinham esse cuidado, de
nunca deixá-la sozinha."
Parentes contam que Leandro Murgo, 26, que namorou a
jovem de 2000 a 2003, chegava
a dar voltas com a garota pela
cidade, depois de jantarem, para ter certeza de que pelo menos parte da comida seria digerida. Ainda assim, Bia insistia
em provocar o vômito depois
das refeições, principal traço da
bulimia, doença que freqüentemente acompanha a anorexia.
Amigos e professores tentaram ajudar a jovem a se livrar
da doença e chegaram a criar
uma comunidade no site de relacionamentos Orkut intitulada "Engorda Bia", que ontem
estava fora do ar.
Segundo a prima, ela começou a fazer dieta com cerca de
16 anos. O distúrbio, porém, teria se manifestado apenas
quando a jovem passou a acessar freqüentemente sites que
cultuam a anorexia (chamada
de "Ana" pelas doentes) e a participar de comunidades de anoréxicas no Orkut. "Foi depois
disso que ela começou a perder
muito peso."
Em 2003, Bia ficou internada
por duas semanas, em "um dos
piores estágios da doença", segundo Cristiane. "Nessa época,
ela estava, inclusive, muito
mais magra do que ultimamente. A mãe dela até achou que ela
já estivesse se recuperando
agora." "Às vezes, ela chegava à
sala de aula comendo apenas
uma pipoca", disse a professora
de literatura inglea e norte-americana Jean Sudaia.
Essa não foi a única internação pela qual a jovem passou.
Há poucos meses, ela teve uma
nova crise e mais uma vez ficou
hospitalizada por 15 dias. Por
insistência da família, ela passava por tratamento psiquiátrico havia mais de três anos, que
não incluía medicamentos, segundo a prima.
Na semana que antecedeu
sua morte, Bia vinha se queixando de dores nos rins. A jovem, porém, relutava em aceitar uma nova internação porque viajaria para Porto Seguro,
com os pais, depois de amanhã.
"Ela tinha medo de não sair do
hospital a tempo. Seria sua primeira viagem de avião."
No domingo, Bia morreu depois de diversas paradas cardíacas. A primeira aconteceu no
banho, quando ela se preparava
para a ceia de Natal. Ela foi socorrida pela mãe, que ouviu o
barulho da queda no banheiro.
Outra prima, enfermeira, reanimou a jovem. Levada ao hospital, teve outras paradas cardíacas e não resistiu.
Os pais de Beatriz, que era filha única, não quiseram se manifestar ontem.
(MAURÍCIO SIMIONATO E CARLA MONIQUE BIGATTO)
Texto Anterior: Florianópolis: Dois são presos por agredir gays diante de boate Próximo Texto: Frases Índice
|