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DOENÇAS CARDÍACAS
As pacientes são levadas para o hospital com 132,5 minutos de demora, 12,5 minutos a mais que os homens
Infarto agudo mata mais as mulheres
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Pesquisa feita por médicos ingleses mostra que entre as mulheres que sofrem infarto agudo os
casos de óbitos ocorrem três vezes
mais que entre homens nas mesmas condições. Uma das principais causas dessa mortalidade
-além de complicações como
diabetes, obesidade e menopausa- é o atendimento precário ao
qual as mulheres são submetidas.
De acordo com o estudo, as mulheres demoram mais para chegar
ao hospital e para ser medicadas.
Num período de 30 dias após a internação, a taxa de mortalidade
entre elas também é maior do que
a registrada entre os homens.
De janeiro de 1988 a dezembro
de 1997, os responsáveis pelo estudo analisaram 1.737 pacientes
de quatro hospitais da Inglaterra.
O resultado do estudo foi publicado em novembro do ano passado na revista médica "American
Heart Journal".
O presidente da Socerj (Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro), José Geraldo Amino, explica que a doença coronariana na
mulher é subestimada tanto por
familiares quanto por médicos.
"As pessoas acham que apenas
os homens sofrem infartos e não
levam a sério os sintomas na mulher, muitas vezes confundidos
com "chiliques", até mesmo por
especialistas. Por isso os índices
negativos em relação a ela."
Segundo dados da pesquisa, a
mulher leva, em média, 132,5 minutos para chegar ao hospital,
12,5 minutos a mais do que os homens, e mais 90 minutos para ser
medicada (homens demoram 78
minutos para serem atendidos).
Logo após a internação, 87,8%
delas recebem aspirina para a fase
aguda do infarto, enquanto 91,3%
dos homens tomam medicamento mais específico. A taxa de sobrevivência, depois de um mês,
também é maior entre os homens:
88% para eles e 78,4% para as mulheres.
"Entre um homem e uma mulher com os mesmos sintomas de
ataque cardíaco, como dores no
peito, suor e palidez, os médicos,
com certeza, o atenderão primeiro", afirma Amino.
Na opinião de especialistas que
concordam com a conclusão da
pesquisa, o tratamento diferenciado entre os sexos contribui fortemente para o fracasso na cura
das pacientes.
Outro dado apontado pelo estudo é que as próprias mulheres não
sabem reconhecer os sintomas.
"Elas não acreditam que possam estar sofrendo um infarto e
muitas têm vergonha de falar até
mesmo com familiares, uma vez
que, normalmente, são desacreditadas", afirma Amino.
Sintomas atípicos contribuem
para que a doença coronariana
não seja identificada.
"Nas mulheres, também são comuns dores nas costas, no pescoço, no maxilar e no estômago",
diz o chefe do setor de cardiologia
do hospital Miguel Couto (Gávea,
zona sul do Rio), Eduardo Nagib.
O cardiologista reconhece, no
entanto, que a maior dificuldade
enfrentada pela mulher continua
sendo o tratamento diferenciado.
"Os especialistas sabem que
90% dos homens que chegam ao
hospital com os sintomas realmente estão sofrendo infarto, enquanto nas mulheres esse índice é
menor: 65%. Por causa dessa diferença, os médicos acabam negligenciado as mulheres", diz Nagib.
Segundo ele, a expressão "É mulher? Então não deve ser nada"
não é dita apenas por amigos e parentes das pacientes, mas também
por especialistas.
A falta de credibilidade e o atendimento precário preocupam os
médicos e têm sido motivo de discussão no mundo todo. Para tentar mudar esse quadro, a Socerj
está preparando um artigo sobre
o assunto, que será publicado na
revista da entidade e distribuído
nos hospitais, para profissionais e
pacientes.
"Vamos alertar os cardiologistas sobre o risco que as mulheres
correm com a falta de atendimento e orientá-los a prestar mais
atenção a elas. Para as pacientes,
nossa recomendação é que não
negligenciem seus sintomas",
afirma Eduardo Nagib.
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