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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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INIMIGO Nº 1

Acusado de promover onda de violência no Rio, traficante será isolado em Presidente Bernardes

Beira-Mar passará dez dias sem ver o sol

Rafael Ruas/Secom
O traficante Fernandinho Beira-Mar ao ser transportado de Bangu 1 para o aeroporto


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao cruzar os portões do presídio de Presidente Bernardes (SP), ontem, o traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, perdeu mais do que privilégios: teve a cabeça e o tradicional cavanhaque raspados e o figurino alterado -entraram jaleco e calça bege no lugar da camiseta com bermuda, traje da imagem que o marcou no ano passado, quando apareceu sorrindo depois da rebelião que destruiu o presídio de Bangu 1.
Beira-Mar foi transferido do Rio às pressas na madrugada de ontem, de avião, por causa da onda de violência promovida naquele Estado pelo Comando Vermelho, organização criminosa liderada por ele. A medida foi acertada entre os governos federal, do Rio e de São Paulo. O detento ficará em Presidente Bernardes por 30 dias.
Segundo o diretor do CRP (Centro de Readaptação Penitenciária), Antonio Sérgio de Oliveira, Beira-Mar disse, ao ser recebido, por volta das 4h40 de ontem, que já tinha ouvido falar da instituição, mas que não imaginava que as regras fossem tão rígidas.
Nessa conversa, o traficante foi informado sobre o funcionamento do RDD (regime disciplinar diferenciado), aplicado em São Paulo para condenados indisciplinados ou líderes de facções.
""Falei que ele seria tratado como os demais", disse o diretor. Por isso, o corte de cabelo, o fim do cavanhaque e a troca da roupa. Beira-Mar afirmou a Oliveira que, no presídio de Bangu 1, tinha TV, rádio, visita íntima, jornais e revistas. Nada disso é permitido na penitenciária paulista. ""Para leitura, apenas os livros da nossa biblioteca, educativos ou religiosos", disse o diretor.
O traficante passará os próximos dez dias sozinho, sem sair de sua cela, em um espaço de seis metros quadrados, com cama, latrina, pia e cano d'água -todos os presos tomam banho frio.
Depois, caso não cometa nenhum ato de indisciplina, poderá sair uma vez por dia, por uma hora e meia, para banho de sol. Ficará algemado, sozinho, vigiado por câmeras, funcionários e cães da raça rotweiller treinados pela PM.
Ele não pode receber visitas de parentes, já que, pelas regras do RDD, elas só são admitidas após 30 dias. Segundo o governo estadual, esse é o prazo máximo de sua estada. Conversas com advogados terão de ser previamente agendadas após o 11º dia.
Inaugurado em abril do ano passado, o CRP foi o primeiro no país a ter equipamento bloqueador de celular. Com capacidade para 160 detentos, o presídio tinha ontem 68, entre eles o ex-líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) José Márcio Felício e o sequestrador Wanderson Nilton de Paula, conhecido como Andinho.
Beira-Mar está em uma cela estrategicamente escolhida: a porta fica em frente de uma das 27 câmeras do complexo e está distante dos demais presos. ""Para falar com os outros detentos, ele teria de gritar muito, o que não vamos permitir", afirmou o diretor.
Nunca houve uma fuga do CRP. As muralhas são vigiadas por PMs armados e o projeto impede a abertura de túneis -o muro tem uma base de dois metros e há placas de metal no subsolo.
Até agora, não houve caso de funcionário envolvido em corrupção, fornecendo drogas ou celulares para os detidos. Os agentes só entram na unidade depois de passar por um detector de metais. Eles também são vigiados 24 horas por dia pelas câmeras e ainda passam por um rodízio interno -não ficam sozinhos nem permanecem muito tempo com um mesmo preso.
Beira-Mar terminou a entrevista com o diretor dizendo que havia ficado surpreso com sua transferência, que não havia liderado a onda de violência no Rio e que não causaria problemas no CRP.
O prefeito de Presidente Bernardes, padre Umberto Laércio Basto de Souza (PTB), afirmou que o governador Geraldo Alckmin pediu, em uma ligação telefônica ontem pela manhã, que ele tranquilizasse a população.
"O governador me garantiu que ele [Beira-Mar] fica, no máximo, 30 dias. Pedi reforço no policiamento porque fico preocupado com o que possa acontecer."

Colaborou a Agência Folha


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